Pois estava eu saindo de casa para mais um
dia de labuta, quando a Claudionora, colega de trabalho, me avistou e buzinou.
Quase pulei de susto, pois estava degustando as poesias de "A verdade nos
seres", livro do talentosíssimo Daniel Marchi.
— Mulher, quer me matar?
— Claro que não, Salete. Só quero te dar
uma carona.
Mesmo conhecendo a notória inabilidade da
minha amiga ao volante, aceitei o convite, ainda mais porque os ônibus na
capital gostam de fazer doce para darem o ar da graça. Meia hora no ponto é nos
dias de sorte, pois a espera costuma ser muito mais dolorosa.
E lá fui eu com a cara e a
coragem me sentar no banco do passageiro do possante da Claudionora, cinto de
segurança e reza em dia. Tudo parecia incrivelmente bem, como se a motorista
tivesse abandonado todas aquelas loucuras ao volante. Ledo engano, como, para
meu desespero, pude constatar no meio do trajeto. É que a minha colega, talvez
distraída por algo alheio à minha percepção, quase atropelou uma senhora na
faixa de pedestre. Por sorte ou intervenção divina, a velha se safou sem nem um
arranhão sequer. No entanto, eis que surgiu, não sei de onde, um guarda.
— Minha senhora, além de quase
atropelar aquela pedestre, a senhora está sem cinto.
— Seu guarda, por acaso o senhor
sabe se eu posso usar cinto?
Pego de surpresa, o sujeito ficou
desconcertado e acabou pedindo desculpas para a louca da minha amiga. Você
acredita nisso? Pois foi o que aconteceu. Mas a coisa não parou por aí, pois a
Claudionora, artista das boas, começou a chorar, o que parece ter compadecido o
coração do guarda.
— Minha
senhora, por favor, me perdoe. Não foi minha intenção causar tamanho
transtorno. Se a senhora quiser, pode encostar ali para se recompor. Posso até
arrumar uma água com açúcar, se a senhora assim o desejar.
As lágrimas
corriam pela face da Claudionora, que aceitou a proposta do homem da lei.
Ficamos paradas por uns cinco ou dez minutos, até que, finalmente, fomos
embora. Mas não pense você que acabou por aí, pois a minha amiga ainda teve a
desfaçatez de trocar telefones com o guarda, que, afinal, era um tipão.
Quando já estávamos
quase chegando ao trabalho, a Claudionora parecia ter trocado o drama pela
comédia. Olhei para ela e pude ver aquele sorriso estampado no seu rosto.
— Claudionora, você tá bem?
— Ué, tô! Por quê?
— É que pensei que você estive tendo um
treco lá atrás.
— Treco que nada, Salete! Só não queria
ser multada novamente. Ufa, escapei por pouco!
- Nota de esclarecimento: O conto "Claudionora, a motorista tresloucada" foi publicado por Notibras no dia 16/3/2025.
- https://www.notibras.com/site/claudionora-a-motorista-tresloucada-que-enlouquece-agente-de-transito-e-amiga/
Adorei o conto !
ResponderExcluirLuzia, é muito bom receber sua visita por aqui. Obrigado pelos comentários.
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