sábado, 30 de abril de 2022

Dona Irene x Dudu

    Confesso que, ao contrário da minha esposa (a Dona Irene), sou extremamente sensível à dor. Aliás, por causa disso, ela sempre brinca comigo dizendo que eu seria um péssimo espião, pois, caso eu fosse capturado pelo inimigo, entregaria todos os segredos antes mesmo de um simples beliscão na orelha. 

    Só para você ter ideia da diferença de sensibilidade entre a Dona Irene e mim, vou lhe contar duas situações, ambas verdadeiras por sinal. A primeira aconteceu com ela, que estava em uma reunião de trabalho. A minha mulher, em determinado instante, disse que precisaria se ausentar, pois estava sentindo um pequeno incômodo. Ela se levantou e, depois de aproximadamente uma hora, me telefonou:

    _ Dudu, você pode vir aqui no hospital agora pegar o carro?

    _ Hospital? Como assim? O que houve?

    _ É que o médico disse que eu vou ter que ser operada por causa de um cálculo renal.

    Caso você não tenha entendido, ela, que estava com uma crise renal, dirigiu do trabalho até o hospital sozinha. A distância entre esses dois locais é de aproximadamente dez quilômetros. Pois bem, essa é a Dona Irene! 

    Já o que aconteceu comigo foi mais ou menos assim. Eu havia acabado de sair com o Chengulo, o meu buldogue, quando,  de forma estabanada, acabei metendo a testa em um suporte de ferro desses que ficam nos portões de algumas residências para colocar o lixo. A pancada foi tão forte, que a dona da casa saiu e fez aquela cara de assustada, pois o sangue escorria pelo meu rosto.

    Quase na mesma hora, telefonei para a minha amada, que disse que eu teria que levar alguns pontos. Tentei retrucar, pois tenho horror à anestesia local, que sei que arde pra caramba. Pra quê? A Dona Irene disse que iria sair do trabalho naquele momento e que me levaria até o hospital para que a minha testa fosse suturada.

    Não sei exatamente em quanto tempo a minha mulher chegou para me buscar, mas pareceu um minuto ou dois. É que sempre que eu quero que algo não aconteça, o tempo passa voando. Logo estávamos na sala, com a médica com aquela seringa enorme cheia de anestésico. A cada injetada daquele líquido, eu apertava a mão da Dona Irene, que, serena, tentava me consolar. As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Que eternidade!!! Finalmente, a minha testa ficou dormente, a doutora me deu 11 pontos e, antes de sairmos do local, a Dona Irene se virou para mim e falou: 

    _ Já vi gente frouxa, mas você é, de longe, o mais fraconildo agudo!

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Dona Irene x Dudu" foi publicada pelo Notibras no dia 24/10/2023.
  • https://www.notibras.com/site/dona-irene-dudu-e-o-choro-do-menino-grande/

    

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Vai encarar?

    

    Há coisas e situações tão hilárias, que não é difícil duvidarmos que sejam verdadeiras. Entretanto, posso lhe garantir que essa história realmente aconteceu. Aliás, você nem precisa acreditar que tudo se passou exatamente da maneira que irei lhe contar, mas tenho convicção de que será divertido. E, por favor, não me peça para fazer um PowerPoint ridículo, já que não tenho muita vocação para palhaço.

    A minha mulher (a famosíssima, linda e maravilhosa Dona Irene) e eu temos um casal de amigos (a Rita e o Raul) na agradabilíssima Porto Alegre. Esses dois, extremamente simpáticos, moram em um edifício numa rua sem saída e possuem um filho (o Lucas), que já é adulto. E tudo começou quando, há não sei quanto tempo, a Rita ouviu uma gritaria lá embaixo. Apreensiva, ela foi dar uma esgueirada na janela e, então, constatou que um homem enorme estava correndo atrás do Lucas.

    _ Raul!!! Raul!!! Raul!!! Corre, que tem um troglodita querendo bater no Lucas!

    Por sua vez, o Raul, que tem físico mais para maratonista do que para lutador dessas lutas em gaiolas, correu que nem um doido para ver o que estava acontecendo. Assim que ele teve a exata noção do que poderia acontecer com o seu rebento, não teve dúvida. Pegou o que tinha mais perto e desceu as escadas como um verdadeiro Usain Bolt. 

    Já na rua, o Raul, com o tal objeto nas mãos, disse para o homem de quase dois metros: "Ei, você, deixa o meu filho em paz!" O cara, assustado com o Raul, preferiu fugiu do local. Dessa forma, o marido da Rita conseguiu salvar a vida do Lucas. 

Você quer saber o que o Raul carregava nas mãos? Pois bem, era um lápis! Mas não um lápis desses que usamos para escrever. Era um lápis do tamanho de um taco de beisebol!

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Vai encarar?" foi publicada por Notibras no dia 27/2/2024.
  • https://www.notibras.com/site/raul-com-tacape-salva-lucas-das-garras-de-troglodita/

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quarta-feira, 27 de abril de 2022

Paulão, Dudu e o Elefante

   Paulão trabalhava em um órgão do governo, onde ocupava uma posição de chefia. Por causa disso, sempre havia um ou outro bajulador em sua sala, seja levando uma maçã ou qualquer outro agrado, seja elogiando o novo terno, seja até mesmo para levar um pouco de café requentado em um copo de plástico. No geral, ele recebia todos de bom grado, mas lhe faltava algo naquela cidade tão distante da sua, lá no interior de São Paulo.

          Nesse mesmo local havia um outro funcionário, o Dudu, que de chefe não tinha nada. Ele trabalhava em um departamento bem próximo da sala do Paulão, com quem já havia cruzado algumas vezes pelos corredores ou na cantina. Apenas um "Oi!", nada de muita conversa. No entanto, o Dudu havia percebido algo que o incomodava no Paulão. Ele, que não era psicólogo nem nada, notou um olhar tristonho por detrás daquele sorriso expansivo do Paulão.

          Certo dia, lá estava o Paulão, jogando aquelas pernas longas em passadas espaçosas pelo corredor, quando foi parado por um grupo de funcionários, que falava sobre futebol. Um deles, mais atrevido, perguntou para o Paulão qual era o seu time. Ele deu aquela estufada no peito e, quase gritando, disse: 

          - Linense!

          - O quê?

          - Linense! O Elefante!

          Ninguém entendeu bulhufas do que o Paulão queria dizer com aquilo. Todavia, antes que ele pudesse explicar, alguém o chamou para resolver um problema de última hora. Coisas da chefia!

          Alguns dias se passaram, até que o Paulão precisou ir ao departamento do Dudu, que fingia estar entretido com alguma coisa importante simplesmente porque não queria trabalhar. Entretanto, o olhar sagaz do Paulão não pode deixar de notar o símbolo do seu time do coração na tela de proteção do computador do Dudu.

          - Linense! Por que você tem o escudo do Linense no seu computador?

          - Ué, porque sou Elefante!

          O Paulão, ainda desconfiado, pensou que aquilo fosse uma piada. Mas, antes que pudesse fazer novo questionamento, eis que o Dudu, com um ligeiro toque no teclado bem à sua frente, fez com que o hino do Linense começasse a tocar. A partir daí, aqueles dois malucos passaram a ter um vínculo tão intenso, que muita gente não entendia. "Afinal, quem é que torce pro Linense?", todos se perguntavam.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Paulão, Dudu e o Elefante" foi publicado por Notibras no dia 24/3/2024.
  • https://www.notibras.com/site/servidor-esperto-ganha-pontos-sem-bajular-chefe/

     


terça-feira, 26 de abril de 2022

Arroubo de sinceridade

    Fernando era um rapazola quase bonito. Não era, obviamente, um Alain Delon, mas dava para o gasto, ainda mais em Irajá, onde uma beca mais chique deixa qualquer um bem-apessoado ou, como diziam as coroas do bairro, um pitéu.  A verdade é que todo mês ele aparecia com uma namorada nova a tiracolo, o que causava um fuxico danado.

    Lá estava o Clark Gable do subúrbio desfilando com mais uma mulher de parar o trânsito. Todo mundo comentava! Ele até que gostava da situação, pois estufava o peito e dava aquele sorrisinho de lado, o que valorizava ainda mais aquele bigode aparado à navalha. 

    Certa noite, lá estava o nosso conquistador voltando para a sua alcova. No entanto, como era domingo, ele já havia resolvido as coisas do coração na casa da amada, pois teria que trabalhar no dia seguinte bem cedinho. Já na esquina, encontrou com o Tião, pipoqueiro mais afamado da região, que puxou um pequeno diálogo.

    . _ Fernando, nunca vi alguém ter tanta sorte com mulher assim! 

  •     _ Meu amigo, não se iluda com isso! Pode ter certeza de que as batalhas foram muitas, e a maioria eu perdi. 
  • Nota de esclarecimento: O conto "Arroubo de sinceridade" foi publicado por Notibras no dia 16/2/2024.
  • https://www.notibras.com/site/don-juan-perde-mais-batalhas-do-que-ganha/

    

Paixão avassaladora

    Não sei o que fez você, que está me lendo agora, se apaixonar. Talvez um olhar, quem sabe um sorriso ou, então, uma palavra carinhosa. Cada paixão tem seus caminhos, trilhas, curiosidades. Sei lá! Há milhares, quiçá milhões ou até bilhões de razões que despertam esse sentimento tão fogoso!

    Sou um felizardo por ser casado com a Dona Irene! E é incrível que apenas hoje, depois de mais de 11 curtíssimos anos ao lado dessa mulher maravilhosa, é que me dei conta do real motivo dessa minha paixão louca por ela. Você poderia chutar que é por conta daquele sorriso encantador, arriscar que é por causa da sua inteligência tão sagaz. Ela tem encantos múltiplos, que certamente me direcionam o olhar a cada instante. Gente, mas o que realmente me faz ser tão apaixonado pela minha mulher é o beijo! É que a Dona Irene tem um beijo bem beijado!!! 

Dona Irene e o ET de Varginha

    A Dona Irene e eu, que estávamos em Poços de Caldas, de onde pegamos a estrada para Varginha, conhecida por seus eventos ligados a seres vindos de outros planetas. Chegamos já no finalzinho da tarde, o que nos possibilitou passear por esse lugar cheio de subidas e descidas. Um verdadeiro exercício para deixar as coxas bem torneadas!

    A minha amada, que adora bater pernas e entrar em cada comércio que encontra pela frente, não perdeu tempo. Em cada loja que entrávamos, lá ia a minha então namorada puxar conversa com o proprietário. "Ei, você já viu o ET?" Geralmente, ela recebia um sorriso do outro lado e, de vez em quando, um "Vi, sim!" ou, então, "Ainda não, mas conheço alguém que viu!".

    Tudo seguia bem divertido, até que a Dona Irene fez a mesma pergunta para a dona de uma padaria. Pra quê? A mulher, toda sisuda, respondeu grosseiramente: "Não tem ET nenhum aqui, não! Isso é tudo besteira!" Puxei a minha namorada pelo braço e voltamos para a calçada. Demos alguns passos e, então, tivemos o seguinte interlúdio:

    _ Você viu aquilo?

    _ O quê?

   _ Aquela mulher!

   _ O que tem ela?

   _ Ela é o ET de Varginha!

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Dona Irene e o ET de Varginha" foi publicada por Notibras no dia 24/2/2024.
  • https://www.notibras.com/site/dona-irene-enfim-conhece-o-et-de-varginha/

Dona Irene e a cachaça em Poços de Caldas

        

  Numa madrugada de 2012, a Dona Irene e eu estávamos saindo de São José do Rio Pardo-SP, onde fomos deixar uma linda cadelinha da raça Dogue de Bordeaux. Antes de irmos embora, perguntamos para a dona da cachorrinha se havia alguma cidade interessante perto dali para conhecermos. Ela disse que Poços de Caldas-MG era bonita e ficava a uns 60 quilômetros. A Dona Irene, que nessa época era minha namorada, olhou para mim e sorriu aquele sorriso mais lindo do mundo. Isso, para quem não sabe, é o sim da minha hoje esposa e, então, entramos no carro e voltamos para a estrada.

  Como nessa época viajávamos com um antigo mapa de papel, fomos muito atentos para não errarmos o caminho. Não sei exatamente quanto tempo levamos para chegar à cidade mineira, mas lembro do motel em que dormimos. É que havia uma espécie de jardim de inverno ao lado da cama, com uma porta de vidro quebrada e o céu como teto. Isso mesmo, apesar de haver uma cobertura no quarto, isso não acontecia com a parte do jardim de inverno. Além do mais, fazia um frio tão intenso, que, se estou escrevendo estas linhas hoje,  é porque fui salvo pelo doce calor emanado do corpo da Dona Irene.

  Fomos despertados com o sol batendo na nossa cara. Ainda tentamos cobrir o rosto com o fino lençol, até que a minha amada disse que estava com fome. Levantamos e fomos procurar alguma coisa para preencher o estômago da minha namorada, já que aquele motel não servia café da manhã. 

    Assim que entramos no carro, percebemos que o motel ficava perto do centro. Paramos em uma cafeteria, onde a Dona Irene fez seu desjejum, enquanto eu, como sempre faço pela manhã, tomei meu café preto. Sem açúcar, pois, de doce, já basta a vida. 

   Não sei se você conhece Poços de Caldas, mas vou lhe dizer assim mesmo. Das inúmeras cidades que conheço em Minas Gerais, é a mais agradável. E olha que já passei por várias outras muito legais também. 

    Logo que saímos da cafeteria, fomos dar uma volta para apreciar melhor o local, quando, de repente, um simpático senhor em uma charrete nos convidou para darmos um passeio, ao custo de não sei quanto, mas que não achei caro na época. Seja como for, o passeio estava extremamente agradável, quando, sem avisar, o condutor parou a charrete e nos convidou para conhecermos uma loja de cachaça e queijos. 

  Para falar a verdade, achei aquilo meio esquisito, pois eu queria mesmo é continuar naquele clima bucólico ao lado da minha namorada. Todavia, antes que eu pudesse continuar nessa divagação rabugenta, eis que me chega alguém com uma dose de cachaça e uns pedaços de queijo. Eu não bebo e, pela manhã, é difícil descer algo sólido para o bucho. 

    Agradeci, mas, antes que esse alguém saísse da minha frente, a Dona Irene não se fez de rogada e já foi entornando a cachaça para dentro do estômago, como se aquilo fosse água mineral da fonte mais pura. Para rebater, ela pegou um pedacinho daquele queijo tão cheiroso.

    Depois disso, fiquei compelido a comprar uma garrafa de cachaça e um queijo naquela loja, mas o homem da charrete nos puxou pelo braço e disse que tínhamos que ir. De volta ao passeio bucólico, até comecei a apreciar novamente aquele balançar gostoso ao som dos cascos do cavalo, que soube se chamar Tufão. No entanto, o condutor parou novamente justamente em frente a uma nova loja, também de cachaça e queijo. Descemos, entramos no tal comércio, alguém me ofereceu cachaça e queijo, educadamente recusei, enquanto a Dona Irene botou tudo para dentro. 

   Pois bem, para encurtar a história, que já está muito mais longa que o costumeiro, voltamos para a bendita charrete antes que pudéssemos comprar qualquer coisa. Depois paramos em não sei quantos novos estabelecimentos, eu recusei tudo o que me ofereceram, ao contrário da minha namorada, que, àquela altura, aceitaria até mesmo sopa de pedra. 

    Finalmente o passeio terminou, quando já era perto da hora do almoço. Tive que auxiliar a minha amada a descer da charrete, pois ela estava tão trôpega, que mal conseguia se lembrar de onde estávamos. Aliás, essa parte estou escrevendo aqui em casa com a Dona Irene me olhando torto e sentada no sofá aqui da sala.

    Procuramos um local para deitarmos, justamente sob a copa de uma árvore. Acabamos adormecendo por algumas horas. Fui despertado pelas cutucadas da minha amada, que, pasmem, estava nova como folha. Ela se levantou numa agilidade improvável para alguém que havia ingerido tanto álcool e, então, me fez o seguinte convite: "Quero conhecer o ET! Será que Varginha fica muito longe?"

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Dona Irene e a cachaça em Poços de Caldas" foi publicada por Notibras no dia 23/2/2024.
  • https://www.notibras.com/site/dona-irene-e-a-cachaca-em-pocos-de-caldas/

    


segunda-feira, 25 de abril de 2022

Canela x Gramado

 

    Recentemente conheci a tão falada Gramado. Desculpe os que enaltecem tal cidade, mas para mim não passa de um grande shopping a céu aberto, já que paisagem é o que menos conseguimos enxergar por lá. Não sei se você já viu o filme "O show de Truman", com o Jim Carrey. Pois bem, parece que em Gramado tudo está no devido lugar, com todas as coisas extremamente previsíveis, como se as pessoas que caminham de um lado para o outro fossem figurantes. Até pensei que, de repente, aquele cachorro do referido filme fosse pular em cima de mim, numa brincadeira que se repete todos os dias.

    Pois é, essa viagem que fiz estaria fadada a entrar numa das mais frustrantes que já fiz com a Dona Irene. Todavia, ela me convidou para dar um pulinho logo ali na cidade vizinha: Canela. Que delícia de cidade!!! Canela parece muito mais conosco, já que não é um local cheio de extras pagos para dar aquela impressão de perfeição. Aliás, até a minha mulher, que é dessas turistas meio malucas, se sentiu extremamente livre por lá. Tanto é que fez questão de tirar fotos até em cima de um dos inúmeros coelhos espalhados por uma das praças. 

    Mas não estou aqui para fazer com que você desista de ir conhecer Gramado. Vá sim! Aproveite toda aquela maquete montada milimetricamente para parecer um cenário digno de Hollywood. No entanto, vá depois para Canela, onde, ali sim, você vai passar momentos dignos de uma viagem bem legal. Ainda mais se você for como a Dona Irene e eu, que preferimos algo do tipo "As loucuras de Dick e Jane" ou, melhor ainda, "Eu, eu mesmo e Irene".




  

domingo, 24 de abril de 2022

A tal corda mi do Adoniran Barbosa

    Apesar de arriscar uns acordes no violão, não sou músico. No entanto, uma coisa sempre me intrigou na música "Prova de carinho", do Adoniran Barbosa. É que nela há uma frase sobre uma corda mi do cavaquinho, coisa que não existe. Pois é, ou ele retirou a tal corda de um violão, que não possui apenas uma corda mi, mas duas, ou, então, o Adoniran mentiu para a amada.

    Não acredito que esse gênio, até mais famoso por "Trem das onze", tenha se enganado sobre a verdadeira nota dessa corda. Prefiro pensar que ele, sabedor que o cavaquinho não tem uma corda mi, tenha feito de propósito para, assim, continuar levando a vida boêmia pela noite paulistana. Isso mesmo, imagino que o Adoniran, artista de primeira linha, tenha retirado a sexta corda do violão, que é mais grossa e, sim, ela é mi, e tenha pedido a mão da moça em casamento. 

    Mas eis que a minha amada, a linda Dona Irene, está aqui ao meu lado me falando de uma outra possibilidade, muito mais interessante. A tal corda era mesmo mi, mas a futura esposa do artista sabia que o cavaquinho só tem as cordas ré, si, sol e ré. No entanto, ela também saberia da paixão do Adoniran pela música e, dessa forma, se deixou enganar para que o futuro marido não ficasse triste. Pois é, vou levar para a vida a versão da minha mulher!

  • Nota de esclarecimento: A crônica "A tal corda mi do Adoniran Barbosa" foi publicada pelo Notibras no dia 28/10/2023.
  • https://www.notibras.com/site/corda-mi-inexistente-e-prova-de-amor-e-carinho/

sábado, 23 de abril de 2022

Belchior e Dona Irene

    Hoje vou revelar como comecei a namorar a Dona Irene. Pois bem, isso foi há mais de uma década, quando ela, para aceitar o meu pedido de namoro, me fez três perguntas, entre as quais estava a se eu gostava do Belchior. Obviamente, respondi que sim e, então, ela me presenteou com aquele refrescante primeiro beijo na boca. 

    É claro que dizer que eu também era fã do Belchior não bastaria para conquistar o coração da minha mulher. Por isso, passei a acompanhá-la em vários tributos a esse gigante artista. Aliás, de tantos shows que fomos, acabamos por nos apaixonar por uma cantora em especial, a Alessandra Terribili. Ela, me atrevo a dizer, é uma verdadeira rainha dos palcos, que se tornam até pequenos diante de tamanho talento. A Alessandra é mesmo espaçosa, não pede nem licença para invadir nossos corações. Ela já vai dando uns bicudos na porta e, se esta não abrir, entra pela janela mesmo.

    Ah, essa fixação da Dona Irene pelo Belchior não tem limites. Tanto é que uma das nossas cachorrinhas, mesmo sendo uma menina, ganhou o inusitado nome de Belchior. Tudo bem que hoje em dia a minha amada a chama de Bebel, enquanto eu prefiro Belzulo. No entanto, toda vez que ela apronta uma, a minha mulher grita: "Belchior, sua cachorra maluca!"

A incrível Alessandra Terribili

Dona Irene e Belchior





    

quinta-feira, 21 de abril de 2022

O Diabo é o pai do rock

 

          Essa história aconteceu há muitos anos. Para dizer a verdade, eu havia me esquecido dela, até que a Ninica, a minha filha, me lembrou. Eu nem queria escrever sobre esse ocorrido, mas a minha mulher, a maravilhosa Dona Irene, me obrigou a sentar em frente ao computador e começar a digitar. 

      Nessa época, eu ainda era funcionário do Banco do Brasil. Entrava às 8 e saía às 14h15. Em seguida, ia direto para a clínica veterinária, onde eu ficava, muitas vezes, até altas horas da noite. Isso de segunda a sexta. Além disso, eu também trabalhava na veterinária aos sábados o dia inteiro e, pasmem, inclusive aos domingos, na parte da manhã. Aliás, foi nessa época que escrevi o meu primeiro romance, "Despido de ilusões", além de outros textos. Como você pode perceber, a minha vida era muito corrida. No entanto, como um antigo colega da Rural (UFRRJ), o Márcio, costumava dizer, para mim era até fácil, já que o meu dia tinha 25 horas. 

     Pois bem, lá estava eu naquele fatídico domingo, depois de chegar em casa, tomar banho e, finalmente, sentar no sofá para almoçar. Nem me lembro de ter dado a primeira garfada, pois acabei adormecendo com o prato de comida no colo. De repente, acordei assustado e joguei o prato pro alto. Foi farofa pra todo lado. Uma gritaria louca vinda justamente da casa em frente à minha. Ainda ressabiado, me levantei e fui ver o que era. Não é que a vizinha resolveu transformar a sua residência em uma igreja?

      Não sou de arrumar confusão com ninguém. Por isso, fechei todas as janelas para abafar ao máximo aquela histeria religiosa. Mas que nada! Do jeito que aquele povo gritava, até pensei que Deus precisa arrumar um aparelho pra surdez o mais rápido possível. Seja como for, tomei coragem e fui tentar conversar com a minha vizinha, que nem deu bola para as minhas queixas. Ela simplesmente me disse: "Irmão, venha ouvir a palavra do Senhor!" Eu apenas consegui pensar em uma coisa, mas não tive coragem de dizer: "Ô, sua doida, do jeito que vocês estão gritando, ninguém consegue mesmo ouvir as palavras Dele!"

     Voltei para a minha casa e, juro, tentei controlar meus ímpetos assassinos. Eu me joguei no sofá e coloquei duas almofadas nas minhas orelhas. Nada abafava aqueles berros! Diante dessa situação, resolvi fazer algo que não recomendo a ninguém. Coloquei o aparelho de som na varanda, justamente virado para a igreja da minha vizinha. Agora era guerra! Peguei um velho disco do Raul Seixas, escolhi uma música bem apropriada para aquela ocasião; "O Diabo é o pai do rock". Foi um festival de mísseis de Deus de lá, uma verdadeira bomba atômica do Capeta daqui.  Até que acabei adormecendo com toda aquela barulheira. É que, quando fico estressado, me dá um sono tão intenso, que não há santo que me acorde.

      Acordei todo lânguido e faceiro bem cedo no dia seguinte, fui trabalhar no Banco do Brasil como de costume. Depois fui para a clínica, onde um cliente me contou a fofoca que estava rolando no bairro. Não sou curioso, mas isso não o impediu de me contar. Pois bem, ele me falou para eu tomar cuidado com um cara doido, cheio de farofa no cabelo, e que gostava de fazer oferenda ao Diabo. Creio que eu devo ter ficado tão envergonhado com essa história, que a apaguei da memória até que a Ninica, rindo muito, a trouxe de volta. Aliás, ela também me disse que, desde aquela época, se tornou fã do Raul.

  • Nota de esclarecimento: A crônica "O Diabo é o pai do rock" foi publicada pelo Notibras no dia 04/05/2023.
  • https://www.notibras.com/site/guerra-do-som-alto-provoca-surdez-apocaliptica/

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Dona Irene não acredita em mim

   Vou fazer uma confissão aqui sobre a Dona Irene, que é a minha amada mulher: ela nem sempre acredita nas coisas que lhe falo. Isso mesmo!!! E uma dessas é até bobinha, como a que vou lhe contar. Eu não bebo, mas nada a ver com questões religiosas. É simplesmente porque eu não suporto o gosto do álcool tocando as minhas sensíveis papilas gustativas.

   Pois bem, a minha esposa, capricorniana dessas que desconfia até de si própria, sempre me questionou sobre as fotos do meu antigo jornal "Catraca", já que sempre aparecia com um copo de cerveja na mão. Cansei de lhe explicar que aquelas fotografias eram apenas publicitárias. Todavia, ela parece que nunca acreditou muito nisso. Ainda mais porque minha mulher, diferente de mim, adora bebidas alcoólicas, inclusive a brasileiríssima cachaça. 

    Aliás, uma cena bastante comum é quando vamos a um bar ou restaurante, onde a Dona Irene sempre pede uma bebida mais quente, enquanto eu fico, no máximo, numa água com gás. O garçom, invariavelmente, me serve a caipirinha ou outro aperitivo qualquer, enquanto a água borbulhante é posta justamente ao lado da minha amada. Isso mesmo, até o garçom parece duvidar de mim!

    E lá estávamos a Dona Irene, meu amigo de longa data, o Johnny, e eu num bar ali na rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, justamente o bairro onde nasci, nos divertindo. Tudo lindo e maravilhoso, ainda mais porque estávamos degustando um frango a passarinho, que o Johnny adora. Isso até que surgiu o seguinte diálogo.

    _ Johnny, o Dudu já bebeu?

    _ Ele nunca gostou de álcool. Sempre bebeu água ou suco.

    _ Amorzinho, mas eu já havia te falado isso!

    _ Ah, mas eu precisava confirmar essa sua história muito mal contada!



  • A crônica "Dona Irene não acredita em mim" foi publicada pelo Notibras no dia 10/10/2023.
  • https://www.notibras.com/site/caipirinha-uma-garrafa-dagua-e-a-palavra-final/



    

terça-feira, 19 de abril de 2022

Dona Irene em Madureira

    A minha amada, a famosa e linda Dona Irene, de tanto me ouvir falar de Madureira, queria porque queria ir logo nesse lugar mágico encrustado no coração do encantador subúrbio carioca. Acordamos bem cedo, tomamos café e até tentei convencê-la a ir à praia. Que nada! Ela estava tão decidida, que não seria justamente eu que iria contrariá-la. 

   Caminhamos até a estação Cardeal Arcoverde, onde pegamos o metrô para a Central do Brasil. Ali, tomamos o trem para o bairro tão cantado em sambas. Finalmente descemos em Madureira, naquela muvuca tão própria desse lugar encantador. O sorriso da minha mulher tomou-lhe toda a face, que ficou ainda mais bonita. 

   Enquanto descíamos a rampa para a calçada, a Dona Irene torcia o pescoço pra cá, pra lá, pra todos lugares, pois queria captar toda aquela aura local. Confesso que até eu, que já perambulei inúmeras vezes por aquelas ruas, também estava muito empolgado. Ir à Madureira é como ir a uma roda de samba, ou seja, por mais que você tenha ouvido aquelas músicas, não tem como deixar de arriscar uns passinhos ou, ao menos, dar umas batucadas com as pontas dos dedos. 

    Depois de batermos perna pela região, a minha esposa disse que queria conhecer o famoso Mercadão de Madureira. É que eu havia lhe dito que lá havia até bode para vender, coisa que ela queria ver de perto. Pra quê? Assim que entramos nesse misto de shopping e feira, parece que a Dona Irene foi picada pela mosca do consumismo. Comprou tanta coisa, que encheu várias sacolas. Obviamente, eu que as levei, pois a minha mulher não queria estragar as unhas, lindamente pintadas de vermelho, sua cor preferida.

    No entanto, ainda faltava o tal bode. Subimos para o segundo andar do Mercadão, onde, finalmente, a minha esposa se deparou com um pequeno rebanho de caprinos em um cercadinho. Ela ficou apaixonada justamente por um cabritinho malhado. Os olhos castanho-escuros dele fitaram os lindos olhos da Dona Irene, que, por sua vez, se voltaram para os meus. Um medo me correu por toda a espinha, pois conheço muito bem a minha amada. 

    Ela queria porque queria levar aquele lindo filhote para casa! Isso deve ter durado alguns milésimos de segundo, mas me pareceram horas, até que, graças aos sábios deuses do samba, a minha alma gêmea teve um relampejo de serenidade e, olhando bem dentro daqueles olhos do bodinho, disse: "Eu não posso te levar pra casa, mas não fique triste. Alguém vai te comprar e você vai viver em um lindo quintal cheio de capim bem verdinho". 

    No caminho de volta, sentados no banco do trem, olhei para a Dona Irene, que segurou firme a minha mão. Ela nada me disse, mas senti que a sua profecia logo iria se realizar. Por isso, enquanto escrevo esta crônica, estou certo de que o nosso amigo, hoje certamente um lindo bode, vive uma vida repleta de grama tenra e verdinha. 

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Dona Irene em Madureira" foi publicada por Notibras no dia 14/11/2023.
  • https://www.notibras.com/site/visita-podia-dar-bode-mas-ficou-em-outras-compras/

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Autobiografia: tudo são flores!

    De todas as biografias, a menos confiável é justamente aquela em que contamos a nossa história. E isso ocorre até mesmo com os que se julgam ferrenhos amigos da verdade, já que, principalmente esses, omitirão os capítulos não tão heroicos de sua existência. Por isso, não confio em autobiografias, pois seriam como contos de fadas a nosso respeito escritos pelas nossas mães: nada de lembranças onde, literalmente, chutamos o pau-da-barraca.

  Você já reparou que mentimos inclusive quando falamos de coisas que realmente aconteceram? Gostamos de acrescentar uma pitadinha de sal aqui, outra de pimenta ali, tudo para que a tal realidade ganhe contornos épicos e, então, todos fiquem admirados, Obviamente, a mentira está muito mais arraigada entre os homens, que a todo instante tentam se passar por heróis. Dessa forma, somos todos Garrinchas nas peladas, Bruces Lees nas tolas brigas em qualquer lugar, Einsteins nas provas da escola.

    Isso tudo me lembrou uma vez que fui entrevistar o saudoso Adalberto, antigo goleiro do Botafogo, campeão carioca em 1957 contra o Fluminense naquela incrível final dos 6 x 2. Pois bem, ele me contou que havia sido companheiro de palestras do João Saldanha. Este, por sua vez, sempre falava sobre as inúmeras aventuras do Garrincha, mas também gostava de acrescentar algo aqui e ali para a história ficar ainda mais engraçada. Findo o causo, o João se virava para o Adalberto e perguntava: "Você lembra disso?" Tímido, o ex-goleiro simplesmente acenava positivamente com a cabeça. Todavia, quando os dois estavam sozinhos, surgia o seguinte interlúdio.

    _ João, mas nessa época eu nem estava mais no Botafogo.

    _ E daí? Meu amigo, o que importa não são os fatos, mas a história!

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Autobiografia: tudo são flores!" foi publicada por Notibras no dia 22/12/2023.
  • https://www.notibras.com/site/autobiografia-e-primaveril-mas-a-verdade-e-pb/

sábado, 16 de abril de 2022

Beckinha e o reiki

    Quem acompanha os meus textos talvez saiba que a minha esposa (a Dona Irene) mora em Porto Alegre, onde no verão faz tanto calor como no Rio de Janeiro. Particularmente, eu adoro, pois sou daqueles que pensam que quem gosta de frio ou é pinguim ou é picolé. E foi justamente em plena estação de calor que a história que vou lhe contar aconteceu, no famoso bairro Menino Deus, um dos mais tradicionais da capital gaúcha.

    A Dona Irene estava acompanhada da minha sogra (Martinha) e de duas sobrinhas (Jojô e Beckinha). As quatro meninas haviam acabado de almoçar em um restaurante bem próximo ao apartamento da minha amada, quando resolveram dar uma voltinha, apesar dos quase 40 graus. Pra quê? A Beckinha, que por acaso é a mais alta da trupe, acabou despencando de seu 1,70 m ali mesmo na calçada. A Jojô, estática como um cone, não conseguiu ter qualquer reação. Sobrou para a Martinha e a minha mulher acudirem a Beckinha, que, desmaiada, parecia ter perdido toda aquela linda cor de jambo maduro.

    E lá estavam as duas heroínas tentando salvar a pobre Beckinha, adormecida como a mais bela garota do bairro. A situação parecia não ter qualquer prognóstico favorável, até que, de repente, surge uma senhora, que se agacha e pergunta para a minha mulher: "Quer que eu faça um reiki?" A Dona Irene, que até então nunca havia ouvido falar nesse tal reiki, balança a cabeça dizendo que sim. A senhora, então, colocou as mãos a poucos centímetros do rosto da Beckinha, que, milagrosamente, abriu os seus grandes olhos castanhos e sorriu. Em seguida, ela se levantou, deu um abraço caloroso na mulher do reiki e voltou quase saltitante para o apartamento da minha amada.

     


sexta-feira, 15 de abril de 2022

Mão de alface

    Pois lá estávamos a minha mulher (a Dona Irene) e eu na praia do Jabaquara, em Paraty, quase totalmente submersos bem no rasinho, onde a água é tão morna como as do Nordeste. Tão relaxados, que poderíamos ter adormecido, quando, de repente, fomos despertados pelos gritos de duas meninas, que jogavam bola.

    Entre umas risadas e outras, a bola acabou caindo bem pertinho da gente. Eu a peguei e joguei para as garotas, que, ao tentarem pegá-la, acabaram caindo na água. A minha esposa começou a rir, o que também provocou uma onda de gargalhadas nas duas meninas. A partir daí, criou-se uma certa cumplicidade entre a gente e, logo, estávamos os quatro brincando.

    Bola daqui, bola dali, acabei jogando a bola na direção da mais magrinha, cujas mãos não conseguiram agarrar. Gritei: "Mão de alface!" As duas crianças não entenderam o sentido disso, mas riram tanto, que quase fizeram xixi no biquíni. 

    Em seguida, as duas passaram a jogar a bola cada vez mais forte na minha direção, que, apesar de não ser nenhum Jefferson, consegui agarrar todas. Isso até que, já no finalzinho, quando a Dona Irene me cutucou e disse que já queria ir embora. A bola passou entre as minhas mãos e, então, as duas meninas gritaram: "Mão de tomate!!!"

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Mão de alface" foi publicada pelo Notibras no dia 27/10/2023.
  • https://www.notibras.com/site/frango-na-praia-deixa-goleiro-vermelho-como-tomate/

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Almeidinha não sabe brincar

 


  Como já mencionei aqui algumas vezes, a minha mulher (Dona Irene) e eu tivemos uma pequena fazenda durante um breve período. Pois bem, lá estávamos nós dois acompanhados do meu amigo Almeidinha passando um final de semana, que poderia ser muito agradável, se ele não tivesse aceitado o convite de nos acompanhar. É que esse meu grande companheiro, apesar de poder ser até doce de vez em quando, no geral é um poço de amargura.

   Já era finalzinho de tarde, o sol já começava a se despedir, quando a Dona Irene disse que estava com vontade de jogar baralho, mais precisamente sete e meio. Peguei os apetrechos necessários para tal brincadeira e nos sentamos os três à mesa ali na varanda. O Almeidinha, sempre sisudo, levava tudo muito a sério, como se aquela atividade lúdica fosse a salvação do universo, enquanto a minha esposa sorria a cada jogada. Eu, completamente apaixonado, simplesmente encantado com aquele sorriso mais lindo do mundo.

    Lá pelas tantas, eis que a Dona Irene pega uma carta no montinho e a olha com aqueles olhos que iluminam até mesmo aqueles porões de filmes de terror. Ela faz um biquinho e me pergunta se poderia trocar a carta, pois a que ela havia pego não era exatamente a que queria. Obviamente que respondi que sim. Pra quê? O Almeidinha ficou furioso! 

    Ele se levantou e começou a gritar para os quatro cantos que a gente não sabia jogar, que não levava nada a sério. Ainda tentei dissuadi-lo dizendo que aquilo era apenas uma brincadeira. Não adiantou! O Almeidinha pulou a mureta da varanda, pegou um cigarro no bolso da camisa e foi fumar longe da gente. A minha amada e eu olhamos para o céu, que já estava cheio de estrelas, enquanto o Ameidinha continuava a soltar fumaça pelas fuças.

    

    

    

quarta-feira, 13 de abril de 2022

SOS Pirituba x Paulistano

  A partida estava extremamente disputada entre o SOS Pirituba e o Paulistano. Aquilo ali valia muito mais que final de Copa do Mundo, pois na várzea as coisas ganham dimensões muito maiores. É a vida real e não aquelas imagens transmitidas pelas redes de televisão, com aquele glamour de uniformes impecáveis. Na terra batida, a bola corre rascante, as canelas não são de vidro, escudos puídos, números pendurados por um fio, chuteiras com pregos.

 Os jogadores não vivem de jogar bola. No entanto, não há dúvida de que aquilo vai muito além da própria vida, tamanha a batalha em cada lance. Até mesmo o juiz se torna refém daqueles gladiadores. O apito é o grito mais alto. E ai do homem de preto cismar em puxar um cartão! Vai ter morte!!! Não há ambulância no local, mas uma funerária, logo ali na esquina, que sempre está de prontidão.

  Fim de jogo! Apesar do sangue escorrendo de alguns, todos saíram vivos e, sedentos, foram tomar uma no botequim do Italiano. Discussão aqui, palavrões ali. Todos se misturavam naquele lugar, seja o padeiro, seja o dono do açougue, seja o ambulante da esquina, seja o policial do distrito, seja até mesmo o bandido da região. Tudo junto e misturado! 

    _ Você é muito folgado, pirralho! - disse o policial.

    _ Sei que você tem um berro nessa sua mochila aí. Mas se você tentar colocar a mão nele, nem vou te dar um tiro na cara. Vou é jogar a minha pistola na sua testa pra tu aprender a me respeitar!

    O medo tomou todo o corpo do policial. Entretanto, diante de tal desafio e sob os olhares de todos, tentou pegar a sua pistola na mochila. Coitado! Tomou uma pistolada na testa e caiu como uma jaca, O sangue correu em seu rosto, enquanto o ladrãozinho sorvia mais um gole da cerveja gelada.


   

terça-feira, 12 de abril de 2022

Santana, o moralista



   Lá estava o Santana, ostentando a arma na cintura, se achando o maior combatente do crime. Isso apesar de não ter certeza nem mesmo de ter ingerido duas ou três latinhas de cerveja, já que havia inúmeras outras no chão, tão próximas aos seus pés, que, provavelmente, iriam contribuir ainda mais com a pança, que tanto dificultava vestir as próprias calças. Ao seu lado, ligeiramente mais sóbrio, se encontrava o Limeira, seu companheiro de tantas primaveras na polícia.

    Não muito longe do palco, os dois canas escutavam aquela música cheia de agudos. Até ensaiavam uns passos, mas nem a música animada conseguia fazer com que aqueles corpos disformes fossem além de alguns estalares de dedos. Todavia, se o Limeira estava mais a fim de curtir a noite, o Santana, sempre atento a tudo, apesar de quase nem sempre conseguir enxergar um palmo à frente da própria fuça, não gostou do beijo mais caloroso do casal logo ali. Foi dar uma de moralista em pleno show de rock.

    _ Que porra é essa? 

    Os dois pombinhos nem notaram a interrupção do paquiderme armado. Isso, aliás, provocou uma reação ainda mais severa do Santana, que deu um empurrão no rapaz. Este, por sua vez, olhou espantado para aquele homem barrigudo.

    _ Tá olhando o quê, moleque? - Santana, enfurecido, desafiava o jovem, que não devia ter mais que 20 anos.

    _ Você é muito macho porque está armado!

    Pra quê? O Santana, num movimento até rápido para alguém tão gordo e embriagado, pegou a pistola em sua cintura e a jogou no meio da plateia.

    _ Agora vem, moleque!

    Coitado do Santana! Tomou um soco no meio do nariz e caiu de bunda no asfalto. O rapaz tomou a mão da amada, agora ainda mais apaixonada, e sumiu na multidão. Já o Santana, além de perder a contenda, nunca mais conseguiu encontrar a sua arma.

O Viagra das Forças Armadas

  Cresci na Ditadura Militar, quando o país viveu um dos piores períodos de sua história, cheio de corrupção, repressão, censura, tortura, abismo socioeconômico. Todavia, hoje em dia, há pessoas que se referem a essa época como grandiosa, repleta de governantes honrados, honestos e coisa e tal. Pura balela, dita por quem não sabe ou, pior, finge desconhecer as atrocidades cometidas pelos militares em nome de uma suposta ameaça comunista, coisa que jamais existiu por aqui, que sempre foi um local oligárquico, onde uma pequena parcela da sociedade comanda o país com mão de ferro e, pasmem, com uma crueldade nada cristã, apesar da grande maioria da população se declarar devota de Jesus e afins. 

  Se eu fosse enumerar os praticamente infinitos crimes cometidos pelas Forças Armadas, teria que escrever um livro de não sei quantas páginas. Por isso, resolvi citar apenas alguns para refrescar a sua memória, que se atreveu a ler este texto. O atentado terrorista no Rio Centro, acontecido em 1981, quando uma bomba explodiu no interior de um Puma, onde dois militares, a mando do nobre Exército Brasileiro, tiveram a missão de executar um suposto ataque comunista, tudo para que a infame Ditadura Militar continuasse firme por aqui. Aliás, para quem não sabe, o sobrevivente desse desastroso ataque acabou se tornando protegido da Ditadura Militar e, pasmem, até ministrou aulas no Colégio Militar de Brasília. Fico me perguntando qual seriam os temas dessas aulas. 

   Ah, mas os militares são importantes para o Brasil, pois mantém a ordem, alguns poderiam dizer. Ordem? Que ordem é essa? Seria a de manter os pobres na enorme base precária, e os ricos no conforto de felpudos sofás regado a camarão e lagosta? Ruim com os militares e pior sem eles? Creio que essa pergunta deveria ser feita para as inúmeras famílias das vítimas desses fardados. E nem estou falando dos torturados e assassinados no período nefasto da Ditadura Militar. Podemos recordar o acontecido com aquele músico carioca, cujo carro foi alvejado por centenas de disparos do nosso varonil Exército, que, inclusive, tentou mudar a cena do crime na infame tentativa de jogar a culpa justamente na vítima.

   Entretanto, os militares são estrategistas, outros tolinhos diriam. Estrategistas? Desculpe, mas tivemos ministros militares, inclusive um que disse "Mas pra quê essa pressa de vacina?", enquanto a população morria por conta da pandemia. "Tome ivermectina", "Temos cloroquina", disse o cara que está sentado no maior cargo do executivo. Aliás, esse também falou que foi treinado para matar, mas, de tão patético, nem sabe destravar uma arma, como apareceu em um vídeo amplamente divulgado. Fazer arminha com a mão, pelo visto, é bem mais fácil que, efetivamente, atirar.

  Recentemente, outros absurdos tomaram as páginas dos jornais. Não que esses descalabros não acontecessem entre 1964 e 1985. Obviamente que aconteciam, e em patamares muito além dos que são noticiados hoje. No entanto, a ferrenha censura dos militares impedia que a população soubesse desses crimes. Não sei quantos milhares de litros de leite condensado, não sei quantos milhares de quilos de picanha, litros e mais litros de uísque, Finasterida (remédio para calvície), até Viagra. É um absurdo atrás do outro, e tem gente que ainda quer passar pano. Aliás, para que servem mesmo os militares?

    

    

domingo, 10 de abril de 2022

Almeidinha e o senegalês

    Não sei se você sabe, mas o meu grande amigo Almeidinha já passou um tempo em Londres, onde fazia parte da tripulação de um barco de turismo no famoso rio Tâmisa. Ele ajudava na cozinha e servia os clientes à bordo. Corria para cá, corria para lá, atendia a todos os pedidos com até certa gentiliza, levando-se em conta o seu temperamento nem sempre tão polido. Mas como estava na Inglaterra, isso poderia até passar despercebido, pois todos poderiam supor que aquele era o jeito da população local.

  Mas eis que um dia o Almeidinha, praticamente um inglês na pontualidade, chegou atrasado. O encarregado disse para ele e outro funcionário, um enorme senegalês que também havia chegado mais tarde, lavarem a louça da viagem anterior. O meu amigo, que não é de muita conversa, foi logo pegando uma esponja e o sabão e, em seguida, começou a cumprir a tarefa recebida. Já o seu companheiro de labuta se sentou na bancada logo atrás e começou a descascar uma banana calmamente. O Almeidinha olhou aquilo com certa raiva, mesmo porque os dois não se bicavam há tempos.

  Quase dez minutos se passaram, e lá estava o meu amigo esfregando uma enorme panela cheia de restos de comida. Ele deu uma olhada para trás e viu o senegalês comendo outra fruta, desta vez uma maçã. O Almeidinha, ainda com a panela e a esponja nas mãos, perguntou: "Ei, se você for ficar aí me olhando trabalhar, melhor ir lá pra fora". Nisso, o senegalês, que tinha quase dois metros de altura e um corpo digno de um fisiculturista, respondeu: "Estou na minha hora de folga". Pra quê? 

    O Almeidinha, que é até atarracado, mas não é maior que eu, que não sou alto, jogou a enorme panela na direção do senegalês. Este ainda conseguiu se desviar, mas uma comédia pastelão se instalou em plena cozinha, pois o Almeidinha, na ânsia de pular no pescoço do colega de trabalho, escorregou e caiu de bunda no chão. E, antes que uma tragédia maior acontecesse naquele ambiente cheio de facas, eis que o encarregado apareceu e pôs fim àquela contenda. 

    O chefe perguntou que bagunça era aquela, e o meu amigo explicou o ocorrido, já se pondo à disposição para ser despedido. Todavia, para surpresa do Almeidinha, o senegalês é que foi mandado embora. Tudo parecia resolvido, até que o enorme africano olhou para o meu amigo e, com o indicador de uma das mãos, passou no próprio pescoço e disse: "Eu vou te matar!" Logicamente, o Almeidinha se tremeu todo de medo, pois percebeu que o seu temperamento de pinscher miniatura havia arrumado confusão justamente com o pit bull do local. Aliás, um pit bull com o tamanho de um fila. 

    Seja como for, o senegalês, que havia sido despedido, foi embora mais cedo, o que foi até um alívio para o Almeidinha. No entanto, assim que chegou a sua hora de também ir para o lar, doce lar, o meu amigo percebeu que, do outro lado da linha do metrô que ele pegava, lá estava aquela montanha de músculos esperando por ele. 

    O meu amigo, antes do senegalês dar a volta na estação do metrô, entrou em uma linha, que nem era a sua, simplesmente para não tomar uma surra daquelas. E, ao entrar no vagão, para a sua sorte, encontrou um local vazio. Infelizmente, logo percebeu, pela umidade do fundilho da calça, que precisava aprender a controlar seu temperamento impetuoso.

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Almeidinha e o senegalês" foi publicada pelo Notibras no dia 5/11/2023.
  • https://www.notibras.com/site/briga-na-cozinha-de-barco-acaba-em-fuga-no-metro/

     

   

sábado, 9 de abril de 2022

A treta do amigo do meu amigo

    Tenho alguns amigos muito próximos, que conheço há décadas. No entanto, vou falar aqui de um que, apesar do pouco tempo de amizade, já o guardo em alta estima. As circunstâncias que nos aproximaram são tão esdrúxulas, que prefiro deixar para um futuro improvável se falarei como nos conhecemos. Seja como for, para a história que vou contar, esse detalhe é irrelevante. Mas adianto que ele nasceu em Visconde do Rio Branco, pequena cidade da Zona da Mata, mas mora em São Paulo desde o final dos anos 1970, além de ser palmeirense quase tão chato que nem a minha mulher, a Dona Irene. Seu nome? Isso posso lhe dizer: Cleidson.

    Estávamos conversando um dia desses em Porto Alegre, na casa da Dona Irene. Aliás, falar que estávamos conversando é força de expressão, pois o Cleidson parece que tem o DNA do Fidel Castro, já que, quando começa a discursar aqueles falas longas, somos, literalmente, só ouvidos. Às vezes, nos perdemos em pensamentos paralelos, tamanhos são os causos contados por ele. Mas uma nos chamou a atenção, que era sobre uma aventura em que ele praticamente foi desafiado a enfrentar: rapel em uma cachoeira muito alta. 

    Mas antes que você imagine que o meu amigo é um indivíduo que adora esportes radicais, vou logo avisando: o Cleidson é do tipo que prefere passar o dia inteiro no sofá jogando paciência no celular. E, quando deseja sentir mais emoção, ele busca um filme de terror tipo B, desses que você não sabe se fica com medo ou se ri, de tão absurda que é a história. Ou seja, o meu amigo é provavelmente o último ser vivo que poderíamos esperar que se aventurasse descer pendurado por uma corda em uma cachoeira, com sério risco de despencar e se esborrachar todo nas pedras e, por conseguinte, virar comida de piranhas assassinas. Mas lá foi ele!

    Enquanto descia pela corda, que rangia como se fosse partir a qualquer momento, o nosso quase herói se deparou com um vão na cachoeira, que o obrigava a ficar de ponta-cabeça. No entanto, a água, que descia muito forte, antes na sua cabeça, passou a atingir as partes mais sensíveis do Cleidson, que começou a gritar de dor. Com a boca aberta, acabou bebendo forçosamente litros de água. 

    Desesperado e sem ar, ele voltou a ficar na posição quase em pé, o que provocou uma forte batida da sua testa numa pedra. O sangue, obviamente, escorreu por seu rosto, tampando ainda mais a sua visão. Desesperado, o meu amigo já imaginou que aquele seria o seu adeus deste mundo, quando, após vários minutos, que pareceram séculos, foi socorrido por um amigo que estava nas proximidades.

    Logo após terminar essa história, a Dona Irene e eu notamos que o Cleidson tremia e suava, como se tivesse passado novamente por essa situação tão perigosa. Ficamos em silêncio não sei por quanto tempo, até que a minha esposa se virou para ele e perguntou: "O que esse seu amigo tinha contra você?"

  • Nota de esclarecimento: A crônica "A treta do amigo do meu amigo" foi publicada por Notibras no dia 11/1/2024.
  • https://www.notibras.com/site/fidel-faz-historia-com-treta-do-amigo-do-meu-amigo/

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Dona Irene, a mecânica

 

    Não sei se isso acontece com você, mas eu não entendo bulhufas de carro. No entanto, a minha mulher, a Dona Irene, pode ficar horas falando sobre esse ou aquele modelo de automóvel, além de explicar sobre como é o funcionamento disso e daquilo. E, de tanto escutar essa especialista em veículos, acabei me convencendo de que ela é mesmo boa nisso, já que, em terra de cego, quem tem um olho é rei ou, como no caso da minha amada, rainha.

    Pois bem, lá estávamos nós retornando da nossa antiga fazenda, vencendo os quase 24 quilômetros de estrada de terra na nossa saudosa camionete chamada Manoelito, quando nos deparamos com um veículo parado no sentido oposto. O carro estava cheio de gente, enquanto o motorista, desesperado, pediu socorro justamente para mim, que, como escrevi acima, sou um completo ignorante no quesito mecânica. 

    Parei o Manoelito, e o sujeito chegou bem perto e me falou o problema que estava acontecendo: uma luz no painel estava piscando. Eu disse algo para o cara, depois pedi para a Dona Irene dar uma olhada no automóvel parado. Ela desceu da camionete e foi ver o que estava acontecendo.

    A minha esposa ficou conversando por menos de um minuto com o tal homem e, em seguida, voltou para o meu lado no Manoelito. Ela me disse que a tal luzinha piscando era por conta da injeção eletrônica, o que para mim foi mais uma surpresa, pois sou um completo inepto nessa área. O moço ligou o veículo e agradeceu a providencial ajuda da minha mulher. 

    Voltamos a andar pela estrada de chão, quando a Dona Irene me perguntou o que eu havia dito para o tal sujeito. Repondi: "Cara, não entendo nada de carro, mas ela aqui é mecânica!" A minha esposa simplesmente me olhou com uma cara de surpresa e disse: "Mas eu não sou mecânica!" Eu respondi: "Eu sei disso, mas ele não sabia!"

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Dona Irene, a mecânica" foi publicada por Notibras no dia 6/11/2023.
  • https://www.notibras.com/site/luz-piscando-se-resolve-como-ligar-o-interruptor/

domingo, 3 de abril de 2022

Todo mundo odeia o Chris



    Há dias a minha mulher, a Dona Irene, me pede para eu escrever sobre o tapa que o Will Smith desferiu no Chris Rock na premiação do Oscar. Relutei até onde podia, já que eu não gosto de comentar sobre essas fofocas do meio artístico. No entanto, acabei sendo convencido, pois a minha esposa foi bem firme: "Ou escreve ou nada de sorvete!" 

    Na verdade, tudo o que sei sobre o ocorrido foi dito pela Dona Irene, já que eu não acompanho o Oscar nem vejo as notícias sobre isso. Aliás, para ser bem sincero, a única coisa que vi, e mesmo assim foi ela quem me mostrou, foi o momento em que o Will sobe ao palco e, do nada, dá aquela bofetada no Chris. Obviamente que ela me contou que este havia feito piadas sobre a esposa do Will. Piadas bem desagradáveis e que deveriam ficar bem no fundo da gaveta para nunca serem encontradas, a não ser por traças.

    Pois bem, o Chris bem que poderia merecer umas boas palmadas segundo o pensamento de muitos de nós. Com certeza o Will deve ter ficado extremamente enraivecido por conta das nojentas palavras do Chris. Não estou aqui para condenar ou enaltecer a atitude do Will. Provavelmente, muitos de nós faríamos a mesma coisa ou pior. Todavia, se formos analisar a situação sob o ângulo da razão, não agiríamos como o Will.

    Em primeiro lugar, não é difícil notar que o Will é bem maior e muito mais forte que o Chris, que tem o físico do nosso saudoso Wilson Grey. Ou seja, seria algo como se o Muhammad Ali desse um tabefe no Éder Jofre. Além disso, não é de bom tom adultos brigarem, pois isso a gente deveria ter deixado naqueles tempos do jardim de infância. Por isso, creio que a melhor decisão para o Will deveria ser pegar a mão da sua amada e se retirar do recinto e não ir tirar satisfação com o algoz da sua esposa. Isso deixaria o Chris e todos os organizadores da cerimônia constrangidos. Obviamente, essa seria a opção em um mundo ideal. Infelizmente, todos nós estamos sujeitos a, de vez em quando, agirmos como um maluco no pedaço.