Não devia ter 16 anos, pois aconteceu pouco
depois de 1984. Mamãe havia me pedido para ir até a padaria da esquina, cujo
cheiro dos pães inebriava a todos que passavam na esquina da Ministro de Castro
com a Belfort Roxo, em Copacabana. Uma iguaria, que a minha lembrança se recusa
a aceitar que possa haver melhor nas panificadoras que hoje frequento em
Brasília. Memória afetiva, talvez, ou coisa de velho, que não se conforma com a
ligeireza que a vida toma quando nos tornamos adultos.
Pois lá estava eu na fila do pão, quando um
homem, que àquela época me pareceu regular em idade com meu avô, quis furar a
fila. E isso justamente na minha vez. Não sei de onde arrumei coragem para tal,
pois coloquei meu braço esquerdo sobre o balcão, para surpresa do
sujeito.
— Menina, sou general!
— E daí que você não quis
estudar? Tenho culpa disso?
O tipo me olhou surpreso, mas não
que eu tenha virado meu rosto. Percebi pelo reflexo do espelho acima do cesto
de pães. Rogério, o balconista, ficou indeciso por um instante, porém, vendo
que eu não arredava pé, tratou de colocar meia dúzia de pães quentinhos dentro
do saco de papel com a logomarca da padaria.
— Aqui, Lucinha.
Próximo!
Em seguida, fui até
o caixa, onde paguei e tratei de ir logo embora. Mal entrei no nosso
apartamento, contei o ocorrido para minha mãe, que gostou.
— Isso mesmo,
Lucinha. Se a gente não pôr limite nesse povo, daqui a pouco tenta outro
golpe.
- Nota de esclarecimento: O conto "A fila do pão e o general" foi publicado por Notibras no dia 22/3/2025.
- https://www.notibras.com/site/a-fila-do-pao-o-general-e-novo-golpe-abortado/
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