Jaime e Álvaro, dois amigos
dos tempos do ronca, tinham o hábito de gastar os domingos na rodas de samba no
Cruzeiro, famosa região do Distrito Federal por ser reduto dos apaixonados pelo
ritmo carioca. Ou seria soteropolitano? Discórdias à parte, batucavam em
providenciais caixinhas de fósforo, enquanto os profissionais preenchiam o
ambiente com melodias envolventes, que provocavam o gingado dos frequentadores
do tradicional local.
— Viu o Sandoval?
— O que tem ele, Jaime?
— Não soube?
— Soube o quê, meu amigo?
— A mulher dele.
— Desembucha logo, Jaime, pois meus dedos
já estão em descompasso com o pagode.
— O Gomes.
— Hum! O que tem ele?
— Tá com o olho roxo.
— Caiu da escada outra vez?
— Antes fosse.
— Hum!
— Não soube mesmo ou tá se fazendo de sonso?
— Sei de nada, Jaime.
— Dizem que foi o Sandoval.
— O olho roxo?
— É.
— Eita, que isso dá samba!
— Antes fosse.
— Antes fosse o quê, Jaime?
— É que parece que o sujeito é
inocente.
— E quem é que nasce inocente
neste mundo, meu amigo?
— Tolo, então.
— Que seja!
— Mas parece que o Sandoval
entrou de gaiato nessa arapuca.
— Como assim?
— Que a mulher do Gomes tava de
cacho, todo mundo sabe.
— Hum! E daí? Agora você virou
fiscal de relacionamento extraconjugal?
— Que é isso, companheiro? Tá me
estranhando?
— Só sei de uma coisa, Jaime.
— Do quê, Álvaro?
— Acho que o que a gente tem de
passar, outro não passa pela gente.
Jaime deu aquela encarada no
amigo. Quase ao mesmo tempo, Sônia, a tal mulher da discórdia, entrou no recinto,
momento em que os dedos do Álvaro, talvez inebriados pelas coxas torneadas,
perdeu novamente o compasso.
- Nota de esclarecimento: O conto "Bate-papo na roda de samba" foi publicado por Notibras no dia 19/3/2025.
- https://www.notibras.com/site/caso-amoroso-no-cruzeiro-tira-bateria-do-ritmo/
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