Franco, o esposo, sorriu como
se sentindo ser a criatura mais esperta do mundo, mal sabendo que não passava
de um espertalhão, cujas falcatruas são mais óbvias do que encontrar baratas em
esgoto. Verdadeiro bobalhão que não saiu da quinta série e, pior, por seguidas
reprovações.
O mote das inverdades
descaradas, apesar de plausível, não era adultério. A questão era outra e, não
raro, mais custosa do que manter uma amante. E aconteceu justamente quando
Franco completou 50 anos, e o psicológico começou a abalar a varonilidade do sujeito.
Em vez de procurar ajuda de
um profissional, o sujeito começou a tentar compensar a nova condição com algo,
aparentemente, sem sentido. Pois não é que o gajo passou a apostar tudo o que
tinha e o que não tinha? A princípio, uma inofensiva porrinha nos botecos,
depois dominó e, não tardou, estava metido com o carteado. E não pense você que
a coisa parou por aí, pois, no final do segundo mês, já estava apostando em
sites de jogos.
Joana, que não era boba nem
nada, alertou o companheiro, que fez cara feia, como se fosse o senhor da
razão. Franco contraiu dívidas, que poderiam vir a comprometer o orçamento do
casal, caso não fosse por uma prudente ação da mulher. Ela simplesmente mandou
bloquear o cartão do marido, sem que ele soubesse. Sem entender por que seu
cartão havia sido bloqueado, o homem telefonou para o serviço de atendimento do
banco.
— Por que vocês bloquearam o meu cartão?
— Foi o senhor que pediu o bloqueio.
— Eu?
— Sim.
Franco coçou a cabeça, pensou, pensou, pensou. Não conseguia se lembrar
disso. Será que estava ficando maluco? Passou o resto da tarde encucado, até
que a esposa chegou do trabalho.
— Joana, por acaso foi você que cancelou o meu cartão?
— Sim.
— Ué, por que você fez isso?
— Franco, meu amor, se tem uma coisa que não tenho vocação é de viver
debaixo de uma ponte.
O marido entendeu o recado e, apesar do impulso de querer apostar, não
teve ímpeto de peitar a mulher. Esta, por sua vez, passou a tomar conta das
finanças da casa. Sem dinheiro para torrar, Franco começou a se interessar por
palavras cruzadas.
E lá estava o gajo sentado na poltrona, lápis e palavras cruzadas
na mão, olhando para a parede, quando a mulher saiu do banho.
— O que foi, Franco?
— Hum... Pequeno prego de cabeça chata com seis letras.
Sabe o que é?
— Brocha!
- Nota de esclarecimento: O conto "Problemas conjugais" foi publicado por Notibras no dia 8/5/2025.
- https://www.notibras.com/site/franco-cai-na-real-com-as-palavras-cruzadas/
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