sexta-feira, 25 de abril de 2025

Encontro de antigos e novos jornalistas

    

       Lá estavam reunidos os companheiros de redação do finado Silva, notório e notável jornalista dos mais combativos durante o cruel, nefasto e sanguinário período da Ditadura Militar. O grupo sempre se encontrava no mesmo bar, o Beirute, ali no coração da Asa Sul, em Brasília. Entre os confrades, poderíamos destacar Armando Cardoso, Mathuzalém Júnior, Marta Nobre, Cassiano Condé, Wenceslau Araújo e, obviamente, José Seabra, vulgo Chefe, que, com sua voz carregada de alcatrão, era o responsável por abrir a rodada de comes e bebes. 

          Aquela confraternização acontecia desde 1986, quando o país, finalmente, começou a respirar ares de democracia. Ressabiados que eram, as conversas continuaram em tom de bossa-nova, baixinho, baixinho, baixinho... Levou tempo, até que o Silva, naqueles idos vivinho da Silva, começou a aumentar o tom. Não tardou, os companheiros se sentiram desinibidos e confiantes após mais de duas décadas de repressão. 

          Alguns causos foram contados naquele fim de tarde e, dependendo do locutor, eram mais curtos ou deveras extensos. Aliás, o Armando, famoso por ser muito mais prolixo do que poliglota, abusou dos verbetes encontrados no livro do primo do Sérgio Buarque. Enquanto isso, o Wenceslau, a Marta e o Chefe fingiam prestar atenção, já que ninguém queria arrumar pendengas com o colega. 

         Alheio àquilo tudo, mesmo porque já conhecia todas as histórias do Armando, Cassiano trocava figurinhas com a caçula da trupe, Cecília Baumann, a Ceci. Esta, por sua vez, falava ao celular com o Daniel Marchi, que, entre seus felinos e o pequeno Francisco Filipino, tentava buscar inspiração para mais um dos seus contos. Foi aí que o Mathuzalém começou a enaltecer a mais nova colunista do Notibras, a Dona Irene. 

          O Chefe, que não perde oportunidade, resolveu fazer uma ligação de vídeo para a colega de última hora. A Dona Irene levou um tempo para atender, pois, segundo consta, estaria trocando a fralda da filha, a Malulinha.

          — Oi, Chefe!

          — Ouça o que o Mathuzalém tá falando de você.

          O antigo jornalista, então, repetiu palavra por palavra para que a Dona Irene pudesse se inteirar. Mas eis que a moçoila, vaidosa que é, surpreendeu a todos.

          — Mathuza, por favor, se quer elogiar, faço questão de elogios rasgados.

  • Nota de esclarecimento: A crônica "Encontros de antigos e novos jornalistas" foi publicada por Notibras no dia 25/4/2025.
  • https://www.notibras.com/site/encontro-de-antigos-e-novos-jornalistas-com-um-brinde-a-dona-irene/

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