No fundo, mesmo que bem lá no fundo, todo mundo é triste. Tristeza
é o nosso dia a dia, apesar da desfaçatez de buscar, sem qualquer pudor, essa
ilusão que é a felicidade. Eunice, minha irmã, é uma romântica incurável. Vive
fantasiando os momentos mais trágicos da vida como se fossem característicos de
histórias épicas e, no final, tudo vai ficar bem porque é assim que deve ser.
— Roberta, mas você nunca ri?
— Óbvio que rio, Eunice. Rio dessa sua cara
de marmota esperançosa.
— Não sei como é que mamãe conseguiu parir
duas criaturas tão diferentes.
— E quem disse que ela pariu as duas?
— Como assim?
— Ué, não te contaram?
— Contaram o quê, Roberta?
— Que você foi achada na rua.
Minha irmã, sensível como ela só, não consegue
evitar uma lágrima furtiva. Lágrima furtiva? Ih, cá estou usando repertório
que, não duvido, Eunice costuma usar em cartas para algum namorado ou, pior, em
poesias tolas. Como se alguém, em sã consciência, perderia tempo com isso...
— Mas, Roberta, para alguém que só sai com
homem bonito, você é bem depressiva.
— E o que tem isso a ver, Eunice?
— Ué, se eu fosse esse poço de melancolia,
nem me importava se o cara não parecesse com o Denzel Washington.
— Ah, Eunice, não é porque a vida é puro
desalento, que eu não possa me divertir com o sabor de sorvete mais saboroso. E
você sabe que adoro chocolate, né?!
- Nota de esclarecimento: O conto "Que tal uma dose de sarcasmo de vez em quando?" foi publicado por Notibras no dia 21/8/2025.
- https://www.notibras.com/site/que-tal-uma-dose-de-sarcasmo-de-vez-em-quando/
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