Camila,
leitora voraz desde menina, conheceu Juliano, o marido, justamente na festa de
15 anos. Não foi amor à primeira vista. Seus belos olhos castanhos miravam,
então, os de um primo, que, ingrato, voltou os dele para outra parenta. Pobre
debutante, ficou sem par, enquanto o amado foi se embrenhar no jardim com a
outra.
Quase cinco anos depois, Camila
reencontrou Juliano por mero acaso na fila do banco. Ela, que estava sem
óculos, pareceu reconhecer aquele vulto, mas não se lembrava de onde. Apertou
os olhos, quando foi notada pelo rapaz, que sorriu.
— Camila?
— Sim. Você?
— Juliano.
— Ah, sim! Que cabeça a
minha.
Ele a convidou para um sorvete e,
assim, o namoro começou, apesar da pouca empolgação por parte de Camila.
Entretanto, com o passar dos dias, ela se propôs a se apaixonar e passou a
escrever poemas para Juliano. Esse hábito talvez não tenha despertado paixão,
mas foi o suficiente para aceitar o pedido de casamento dois anos após.
O tempo não voou, mas passou mais
rápido do que a mulher imaginou. O casal estava prestes a completar 40 anos de
união. Filhos, netos e uma bisneta fizeram uma grande festa. Camila e Juliano
dançaram até valsa, momento em que ela sorriu, como se lembrando de algo
ocorrido há tanto tempo.
— O que foi, meu amor?
— Nada, Juliano. Nada. Bobagem.
Como teria sido a sua vida, caso
tivesse se casado com o primo? Na verdade, a última notícia que teve sobre seu
paradeiro é que fora para a Índia. Quem sabe não tenha virado refeição de
tigre?
Duas
semanas se passaram. Camila e Juliano estavam sentados na varanda, quando
chegou uma carta. Ela tomou um susto quando percebeu quem era a remetente.
Justamente aquela parenta que havia lhe roubado o pretendente na comemoração
dos 15 anos.
Camila
abriu o envelope e leu a missiva. Lúcia falava que Antônio falecera há seis
meses. Não contava detalhes sobre a morte do cônjuge, mas apenas que ele sempre
dizia como Camila era a debutante mais linda que ele teria visto na vida.
Assim que terminou
de ler a correspondência, Camila desejou guardá-la no cofre. O problema é que
não se lembrava mais do segredo.
— Juliano, qual é mesmo a senha do cofre?
— O dia do nosso reencontro no banco.
Lembra?
— E como poderia esquecer, meu amor?
A mulher puxou pela memória e, após duas
ou três tentativas frustradas, finalmente conseguiu abrir o cofre. Havia um
monte de folhas soltas. Eram as poesias escritas para se fazer apaixonada por
Juliano. Ela pegou todas e retornou para varanda, onde começou a lê-las para o
marido, enquanto sua mão repousava sobre a dele.
- Nota de esclarecimento: O conto "Eu sei que vou te amar" foi publicado por Notibras no dia 10/8/2025.
- https://www.notibras.com/site/eu-sei-que-vou-te-amar/
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