Bem, se os textos do Daniel possuem essa
capacidade de revelar meu lado glutão, há algo que nem ele nem eu possuímos.
Sim, faço questão de me incluir nisso. E o que seria isso que nós não temos? O
costume - ou seja lá o que for - de escrever histórias impossíveis. Não que,
vez ou outra, elementos fantásticos não apareçam nos nossos escritos, mas isso
não é uma constante.
Quem já se deparou com os contos do Daniel
ou os meus, pode até pensar de onde tiramos tantas ideias. Seja como for, são
roteiros críveis, por mais mirabolantes que possam parecer. Não posso afirmar
por que isso acontece, já que nunca toquei nesse assunto com o Daniel, apesar
de sermos amigos há tanto tempo, que afirmo que, por eu ser mais velho, ele
jamais vivenciou um instante neste mundo sem saber quem eu sou. E por uma
simples razão: sou o afilhado preferido da Marilda e do Celso, os pais do Dan.
No meu caso específico, ao contrário da minha
esposa, a Dona Irene, nunca fui leitor assíduo de realismo mágico. Li alguns
autores, é verdade, e até gostei, o que não quer dizer que tenho pretensão ou
vontade de me tornar um escritor que nem o J. Emiliano Cruz (Jota), a Edna
Domenica, o Gilberto Motta e a Luzia Couto. Todos talentosos e com estilos
próprios, que me atrevo a afirmar que consigo distinguir seus textos sem nem
mesmo ler o nome do autor. Isso se chama assinatura, chancela ou, recorrendo a
um termo possível de encontrarmos em um conto do Dan, jamegão.
Os quatro escritores que citei costumam, vez
ou outra, fazer uso (e muito bem, por sinal) dessa narrativa fantástica.
Todavia, o grande mestre dessa maneira de fazer literatura é, sem qualquer resquício
de dúvida, o Cadu Matos. Ele é tão bom nisso, que, quando me deparo com um dos
seus contos, tento desvendar de onde ele tira aquelas situações.
Teria o meu colega das letras poderes que nós, escritores do
cotidiano, por mais surpreendente que seja, desconhecemos? Não duvido e até
tenho uma teoria sobre isso. Absurda, você pode dizer e, caso insista um
pouquinho, terei que concordar. Mas não dá para imaginar que o José Mojica
Marins, o notório Zé do Caixão, transferiu seus poderes pro Cadu quando desencarnou?
- Nota de esclarecimento: A crônica "O mestre do realismo mágico" foi publicada por Notibras no dia 29/10/2025.
- https://www.notibras.com/site/o-mestre-do-realismo-magico/

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