sábado, 25 de outubro de 2025

O menino, a mangueira e a formiga

     

 Olhos perdidos, o menino observava o nada em busca de algo que ainda não havia descoberto. Pensava no seu mundo, o quintal da casa da avó. Não uma avó qualquer, era a materna, cujos laços costumam ser emaranhados que nem pensamentos de gente miúda. 

          Não o quintal todo, mas parte dele, mais precisamente uma árvore. Não uma árvore qualquer, uma mangueira, presente da parenta. 

          — É sua, Joaquim.

          — Minha?

          — Sim. Sua!

          — Só minha?

          — Todinha sua. Desde as raízes lá no fundo até aquela folha verdinha lá no topo.

          O moleque observava a casca áspera do caule, a copa, as raízes exibidas que mostravam parte de suas curvas e, em seguida, se embrenhavam solo adentro, como se buscassem algo. Talvez um tesouro escondido ou, então, apenas água.         

          Formigas. Os olhos observam formigas, formigas pretas, que sobem, que descem, que, de vez em quando, saem dos trilhos, como se desnorteadas ou em busca de algo novo. Joaquim pegou uma formiga, abriu a mão e a pequenina correu por sua palma, começou a escalar o braço. O menino, pegou a danada novamente. 

          Entre o polegar e o indicador, o guri, curioso, viu aquela criatura minúscula se debater. Por um instante, imaginou que a pequenina gritava, desesperada, pedindo socorro. Que nada! Era avó chamando o neto. Hora do almoço.

          Joaquim levou a formiga até o nariz, a cheirou. Cheiro de formiga. Cuidadosamente, a colocou no caule da mangueira, da sua mangueira. Enquanto o minúsculo inseto voltada para a colônia, ele corria para comer seu prato favorito. Talharim à bolonhesa. 

  • Nota de esclarecimento: O conto "O menino, a mangueira e a formiga" foi publicado por Notibras no dia 25/10/2025.
  • https://www.notibras.com/site/o-menino-a-mangueira-e-a-formiga/

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