Olhos perdidos, o menino observava o nada em busca de algo que
ainda não havia descoberto. Pensava no seu mundo, o quintal da casa da
avó. Não uma avó qualquer, era a materna, cujos laços costumam ser emaranhados
que nem pensamentos de gente miúda.
Não o quintal todo, mas parte dele, mais precisamente uma
árvore. Não uma árvore qualquer, uma mangueira, presente da parenta.
— É sua, Joaquim.
— Minha?
— Sim. Sua!
— Só minha?
— Todinha sua. Desde as raízes lá no fundo até aquela folha
verdinha lá no topo.
O moleque observava a casca áspera do caule, a copa, as
raízes exibidas que mostravam parte de suas curvas e, em seguida, se embrenhavam
solo adentro, como se buscassem algo. Talvez um tesouro escondido ou, então,
apenas água.
Formigas. Os olhos observam formigas, formigas pretas, que
sobem, que descem, que, de vez em quando, saem dos trilhos, como se
desnorteadas ou em busca de algo novo. Joaquim pegou uma formiga, abriu a mão e
a pequenina correu por sua palma, começou a escalar o braço. O menino, pegou a
danada novamente.
Entre o polegar e o indicador, o guri, curioso, viu aquela
criatura minúscula se debater. Por um instante, imaginou que a pequenina
gritava, desesperada, pedindo socorro. Que nada! Era avó chamando o neto.
Hora do almoço.
Joaquim levou a formiga até o nariz, a cheirou. Cheiro de
formiga. Cuidadosamente, a colocou no caule da mangueira, da sua mangueira.
Enquanto o minúsculo inseto voltada para a colônia, ele corria para comer seu
prato favorito. Talharim à bolonhesa.
- Nota de esclarecimento: O conto "O menino, a mangueira e a formiga" foi publicado por Notibras no dia 25/10/2025.
- https://www.notibras.com/site/o-menino-a-mangueira-e-a-formiga/

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