Concentrada diante
das cartas dispostas sobre a mesa, Clarice estava determinada a não perder
a paciência. Um movimento errado e tudo poderia ir por água abaixo. Dois, dois,
três, três, quatro, quatro... Tudo ia se sobrepondo aos ases. Por que aquele
maldito nove tinha que ficar trancafiado entre o Rei e o Valete? Droga!
Embaralha, embaralha, embaralha. Nova disposição de cartas.
Dessa vez, o jogo parecia favorável à mulher. Passa, passa, passa, nada se
encaixa. Que inferno!
Determinada a vencer, Clarice embaralhou,
embaralhou e, para dar sorte, fatiou o baralho de trás pra frente, como se
aquilo fosse fazê-la fechar o jogo. Não tinha erro, daquela vez as cartas se
renderiam a ela.
Logo após o baralho ser distribuído sobre a
mesa, Clarice começou a virar o bolo de cartas que segurava com a firmeza e
determinação de uma espadachim.
O início foi complicado, deixou para trás
dois ases. Entretanto, com o desenrolar do jogo, as cartas foram se encaixando,
abriu novas casas, o sorriso no rosto de Clarice já antecipava a vitória, que
vislumbrava no horizonte. Mas eis que uma onda de gritaria e latidos interrompeu
a próxima jogada. Ela olhou para o lado e foi atacada por abraços dos três
netos e lambidas do Barão, o enorme vira-lata da família,
Clarice, assim que os calorosos afagos foram
dissipados, se lembrou das cartas. Voltou os olhos para a mesa e constatou que
o baralho estava espalhado. A mulher não acreditava naquilo e teve ímpeto de
dar aquela bronca na trupe.
Olhos furiosos, lábios trêmulos, que,
gradativamente, se transformaram em gargalhada. Paciência. Clarice, finalmente,
havia vencido.
- Nota de esclarecimento: O conto "Clarice e o jogo de paciência" foi publicado por Notibras no dia 24/10/2025.
- https://www.notibras.com/site/clarice-e-o-jogo-de-paciencia/

Nenhum comentário:
Postar um comentário