Enquanto tentava se concentrar na leitura, Edmar não percebeu que Letícia, a esposa, o acompanhava com olhos castanhos cheios de curiosidade. O que ela estaria pensando? Ou, então, o que queria a mulher, que sabia que o marido era do tipo incapaz de se concentrar em mais de uma coisa por vez. Homens...
— Edmar, o que tu tá lendo?
Nenhuma resposta. A mente do leitor parecia sugada para dentro
daquelas páginas amareladas. Há quanto tempo mesmo ele teria comprado o
exemplar? Hum... Quatro anos? Talvez pouco mais, mesmo porque, quando se chega
a certa idade, a noção de tempo parece se encurtar, como se o que aconteceu há
uma década tenha se passado no mês anterior.
— Edmar.
Nada.
— Edmar!
Lento virar de cabeça.
— Oi.
— Tá surdo?
— Surdo?
— É! Surdo!
— Não. Por quê?
— Tô aqui há meia hora te chamando.
Meia hora? Bem, não foram mais do que alguns
segundos. Que seja! Um minuto ou dois.
— Desculpe, amor. Não ouvi.
— Pois não tô te falando?
— O quê?
— Tu tá mesmo surdo!
Curiosidade arrazoada ou pura manifestação de amor, carinho,
atenção? Não importa. Mas que provoca de propósito, que arranca do delicioso e
valioso transe que a apaixonada leitura nos proporciona. Edmar observou a amada
por um instante a mais e, com um sorriso nos lábios, voltou a ler. Homens... Ou
seriam leitores? Vá saber.
- Nota de esclarecimento: O conto "Inebriado pelas páginas dum livro" foi publicado por Notibras no dia 30/10/2025.
- https://www.notibras.com/site/inebriado-pelas-paginas-dum-livro/

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