Colocava a água na
chaleira, enquanto, atenta que era, abria aquele sorriso com o canoro som
produzido pelo lindo canário-da-terra, que, não tardava, cobrava o seu quinhão
de pão ali sobre a mesa da cozinha. Quem trabalha de graça é relógio. Tinha
família para sustentar. E lá voava alegremente o amarelinho com o salário no
bico.
A mulher, curiosa
que nem sagui, logo percebia o curió devorando o alpiste no potinho
especialmente preparado para ele. Vá com calma, meu amiguinho! Do contrário,
vai acabar que nem cantor de ópera. O pássaro olhava para Isolda e, de pronto,
dava dois giros no ar, como resposta para tamanha provocação. Em seguida, dava
mais algumas bicadas no alpiste e saía cantarolando que nem Caruso.
Hora de sair com a
Fifi, que já aparecia com a coleira na boca. O rabinho abanando que nem
espanador. Isolda bebe o último gole de café. Já na calçada, a mulher percebe
que um velho amigo pousa em seu ombro. É o coleirinha, que veio lhe contar um
segredo ao pé do ouvido. Pode deixar, meu amigo, que não conto pra ninguém!
Aquela senhora,
sentada naquela cadeira de balanço na varanda da casa da esquina, é a Isolda. O
tempo voa. Voa mesmo! Tanto é que, perto de completar 90 anos, a velha recebeu
a visita da Mariana, sua bisneta mais nova.
— Bisa, é verdade
que a senhora conversa com os passarinhos?
— Sim, é verdade.
— E o que eles falam
pra senhora?
— Mariana, hoje acordei
com um bando de periquitos confabulando naquele cajueiro. Pelo que entendi da
conversa, parece que o dia será maravilhoso.
Isolda, com a ajuda
da menina, se levantou. As duas sorriram e, mãos dadas, foram dar uma volta
pelo jardim.
- Nota de esclarecimento: O conto "Isolda e os passarinhos" foi publicado por Notibras no dia 10/5/2024.
- https://www.notibras.com/site/mariana-ouve-da-vo-que-terao-um-dia-maravilhoso/
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