Assim que deu os primeiros passos, o moleque não desgrudava da
saia da mãe, Laurinda. Não importava se a mulher estivesse varrendo o chão,
lavando aquele monte de roupas no tanque ou mesmo indo até a esquina na venda
do Onofre. Lá ia o menino agarrado que nem carrapato.
Dos seis aos 17, Carrapicho foi levado para a escola pelas mãos
firmes da mãe. Ele, choroso, tentava de todas as maneiras se manter grudado,
mas Laurinda, mais firme, desvencilhava as mãos do rebento das suas e o deixava
entregue para não virar burro. Que estudasse, pois a vida, não raro, pode ser
cruel.
Carrapicho, então aos 18, entrou na faculdade. Que orgulho para
Laurinda, que ainda sofria com a dependência constante do filho, que não a
queria largar.
— Arrume uma namorada!
— A minha namorada é a senhora, mamãe.
Apesar do complexo de Édipo, o rapaz acabou
traído pelo próprio coração, que se apaixonou por Laura, uma moça do mesmo
curso. O casal, após quatro longos anos de namoro, se viu formado e, menos de
seis meses após, assumiu compromisso de amor eterno diante do padre.
Carrapicho e Laura viviam uma vida
confortável. Bem empregados, salários juntados muito acima da média, poderiam
passar férias anuais em qualquer lugar. Mas o marido, afeito a manter os mesmos
hábitos, conseguia convencer a mulher a irem para a mesma cidade, onde se
hospedavam no mesmo hotel e, graças às reservas antecipadas, no mesmo
quarto.
Laura achava graça das manias do esposo, até
que, certa manhã fria de junho, arrumou as malas e foi morar com Pedro, antigo
colega de faculdade, que há pouco havia se separado. Quanto ao Carrapicho,
desolado, caiu no mundo.
- Nota de esclarecimento: O conto "Desgruda, carrapicho!" foi publicado por Notibras no dia 30/5/2024.
- https://www.notibras.com/site/complexo-de-edipo-casorio-e-depois-solto-no-mundo/
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