Conversa vai, conversa vem, fomos
apresentados a um monte de gente. Não sei como é que você se sente quando isso
acontece, mas fico meio confuso diante de tantos nomes e rostos novos. É como
se eu tivesse saído de uma caverna bem escura e, de repente, alguém jogasse um
facho de luz tão forte, que cega. Seja como for, após quase meia hora, minha
vista começou a se acostumar com toda aquela claridade. Tanto é que, já
devidamente acomodado em uma mesa ao lado da minha esposa e outras pessoas,
aceitei de bom grado a conversa iniciada por uma mulher.
— Você trabalha com o quê, Edu?
— Sou escritor.
— Escritor?
— É, escritor.
— Como assim?
— Como assim o quê?
— O que você faz pra viver?
— Ué, escrevo.
— Mas você não tem uma profissão?
— Sou escritor.
O clima pareceu pesado, até que a Dona
Irene apaziguou as coisas. É que ela disse para a minha amiga de última hora
que eu também era médico veterinário. Pra quê? A mulher, que era tutora de dois
cães, quatro gatos e um coelho, começou a me fazer perguntas que não acabavam
mais. Mas mantive a linha e respondi educadamente cada questionamento, até que,
finalmente, nos despedimos e fomos embora.
Durante o trajeto de volta, a minha esposa
e eu comentamos sobre o maravilhoso tempero do churrasco. Certamente era
receita da Dona Lourdes. Mas eis que a minha amada começa a rir do nada.
— O que foi?
— Nada, Edu!
— Ué, por que está rindo?
— Você tinha que ver a sua cara.
— Como assim?
— Você fazia umas caretas quando estava
respondendo às perguntas daquela mulher.
— Taí uma coisa que não entendi.
— O quê, Edu?
— Por que você falou pra ela que sou
veterinário?
— Ah, pra ela não pensar que você era um
vagabundo.
- Nota de esclarecimento: A crônica "A nada fácil vida de escritor" foi publicada por Notibras no dia 3/4/2024.
- https://www.notibras.com/site/vida-de-escritor-e-dificil-mas-nada-de-vagabundagem/
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