Foi numa dessas idas que Aldenora conheceu quatro irmãs, um
tanto mais velhas, mas nada que as impedisse de brincarem. E era o que faziam
naqueles dias de inocência.
— Aldenora, qual é o seu sobrenome?
— Sobre o quê?
Todas riram da pobre menina, que nem ao menos sabia o que era
sobrenome. Mas não fizeram por mal, coisas de crianças. Até que Júlia, a mais
velha das irmãs, explicou. Pronto, tudo parecia estar resolvido. Só que não. É
que Aldenora nem sabia se possuía um sobrenome ou, se possuía, não sabia assim
mesmo. Pois, no momento que retornou para casa, foi a primeira coisa que
perguntou para a mãe.
No dia seguinte, a menina voltou para a cachoeira e, não
demorou, avistou as quatro irmãs brincando. Correu que nem formiga tentando
fugir das pisadas de gente e gritou.
— Aldenora Oliveira!
As irmãs disseram que o sobrenome delas era Araújo: Júlia
Araújo, Sônia Araújo, Felícia Araújo e Rosana Araújo. Eram as irmãs Araújo. Que
sobrenome bonito, pensou Aldenora. Ela queria porque queria também ser Araújo.
Tanto é que, no mesmo dia, perguntou para a mãe se poderia ser Aldenora
Araújo.
— Minha filha, quando você for grande, caso o seu marido seja
Araújo, você pode ser também Araújo.
Aldenora Oliveira cresceu, cresceu e cresceu um tanto mais, até
que, aos 18 anos, começou a se interessar por um rapaz que havia acabado de se
mudar para o bairro. José era de Minas Gerais, de uma cidade chamada João
Pinheiro. E, apesar de tímido, durante uma festa, pediu a moça em namoro.
— Como posso aceitar, se nem conheço sua
família?
— Não seja por isso, Aldenora. Sou da família
Araújo, lá de João Pinheiro, Minas Gerais. Sabe onde fica?
— Araújo?
— Sim. Conhece?
Além do sobrenome, Aldenora acabou achando
graça do sotaque do José e, por isso, aceitou o namoro. Tudo parecia estar no
caminho certo, até que, certo dia, o rapaz revelou que o pai, por questões de
disputa de terra, teria matado o vizinho lá em sua cidade natal. De tão desgostosa
ficou a garota, que desmanchou o namoro no dia seguinte. Ela pensou que não
saberia como explicar isso para os futuros filhos do casal.
O tempo passou, passou, passou. Aldenora,
agora aos 29 anos, estava passeando com seu cachorro, o Fofinho, quando
encontrou um grupo de amigos na praça. Parou para se distrair um pouco das
preocupações do trabalho, quando, então, foi apresentada a um homem, que havia
acabado de chegar à cidade.
— Prazer, Aldenora. Meu nome é Valdir.
— Hum. Valdir de quê?
— Valdir Araújo. Por quê?
— Seu pai já matou alguém?
— Não! Por quê?
— Por nada. Prazer. Sou a Aldenora. Aldenora Oliveira, caso
você queira saber.
Valdir achou graça daquilo e convidou a mulher para um sorvete.
Do sorvete, foi um pulo para o primeiro beijo. Após seis meses, amigos e
familiares receberam o convite de casamento. Parece que, finalmente, aquela
garotinha vai se chamar Aldenora Araújo. Aliás, Aldenora Oliveira Araújo.
- Nota de esclarecimento: O conto "A menina que queria ser Araújo" foi publicado por Notibras no dia 7/5/2024.
- https://www.notibras.com/site/aldenora-sem-saber-sobrenome-ganhou-logo-dois/
Nenhum comentário:
Postar um comentário