terça-feira, 21 de maio de 2024

Aurora, Horácio e o vizinho barulhento

    

           Domingo, 6h36, Aurora é despertada pelo barulho vindo da casa do vizinho. Marretadas em cima de marretadas. Ela sacode o marido ao lado.

            — Acorda, Horácio!

            — Hum. O que foi? 

            — Olha o barulho que o vizinho tá fazendo.

            O homem encara a esposa e pensa por algum instante. Ele vira o rosto contra o travesseiro, mas Aurora quer porque quer que o esposo tome uma atitude. 

            — Vai lá!

            — Fazer o quê?

            — Você é o homem da casa. Resolva!

            Horácio percebeu que aquela discussão estava perdida e, então, tratou de calçar o chinelo. Ele, que não possuía predisposição para brigas, não queria criar pendenga justamente com o vizinho. De pé à porta do quarto, virou-se para a esposa.

            — Não é melhor deixar isso pra lá, amor?

            — Anda logo, homem! Aproveita e dê uma volta com a Cacau.

            A cachorra, coleira na boca, já aguardava o homem. Ele se agachou para colocar a coleira na Cacau, que lhe lambeu o rosto. Horácio aproveitou e comentou bem baixinho: "Cacau, minha filha, hoje a sua mamãe acordou com a macaca!"

            Já na rua, Horácio e Cacau passaram em frente à casa do vizinho. O barulho das marretadas pareciam ainda mais fortes. Deu alguns passos em direção ao portão, mas acabou desistindo. Primeiro daria uma volta com a cachorra e, depois, conversaria com o tal homem barulhento. 

            O passeio foi muito mais longo do que de costume. Cacau, talvez percebendo o imbróglio que Horácio iria se meter, fez questão de caminhar além das duas ruas abaixo. Quase uma hora após, cansados, retornaram, quando perceberam a Lúcia, também moradora do local, caminhando furiosa em direção à casa do vizinho. 

            Sem papas na língua, a mulher só não chamou o barulhento de santo. Este pediu mil desculpas e prometeu que aquilo jamais aconteceria. Tudo resolvido, o silêncio voltou a reinar naquele domingo.

            Horácio retornou para o lar, doce lar, onde foi recebido pela esposa, que lhe deu aquele abraço e um beijo carinhoso nos lábios. Ele nem teve tempo de explicar o que havia acontecido, quando Aurora, com cara de satisfação, suspirou.

            — Meu bem, sempre soube que me casei com o homem certo!

  • Nota de esclarecimento: O conto "Aurora, Horácio e o vizinho barulhento" foi publicado por Notibras no dia 21/5/2024.
  • https://www.notibras.com/site/aurora-e-o-marido-horacio-salvo-pela-brava-lucia/

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