Quase onze da noite, uma mulher de lá seus 35 anos entrou no
recinto para registrar um boletim de ocorrência. Foi atendida pelo Santino,
cujos dias de polícia ainda não somavam dois meses. O rapaz, quase um frangote,
estava embevecido pelo sonho de fazer parte daquela classe de homens da lei.
Pois é, homens da lei!
— Meu marido saiu de casa ontem à noite e até agora não
retornou. Estou preocupada, ele nunca fez isso.
— Qual é o nome dele?
— Juliano Borges dos Reis.
Enquanto Santino catava milho no teclado, Jofre se aproximou e
perguntou qual era a situação. Assim que ouviu a explicação, o antigão, sem se
preocupar se causaria desconforto na mulher, abriu aquele sorrisão.
— Já sei pra onde esses maridos que não voltam pra casa vão.
Santino e a mulher olharam para o experiente cana, certos de
que receberiam uma resposta. Mas nada. Jofre apenas se virou para o policial
novinho e ordenou que ele pegasse as chaves da viatura. Logo, Santino ao
volante, Jofre ao lado e a mulher no banco de trás, saíram da delegacia.
— Pra onde, Jofre?
— Pro Baião de Dois.
Sem perda de tempo, Santino pisou fundo no acelerador e, em
menos de 20 minutos, estacionou em frente ao famoso bar. O local estava
apinhado, o forró comendo solto. Jofre, com a fotografia do desaparecido em
mãos, mandou que o colega e a esposa do sumido ficassem no carro, enquanto ele,
destemido policial que era, iria averiguar o local.
Quase meia hora depois, nada do Jofre voltar. Santino,
preocupado com a segurança do parceiro, falou para a mulher aguardar na
viatura. Era a primeira vez que o jovem policial enfrentaria uma situação
perigosa ou, no mínimo, delicada.
E lá foi o novinho, empertigado que nem pescoço de girafa, mão
sobre a arma para caso de necessidade. Assim que pisou no salão do bar Baião de
Dois, Santino se sentiu atordoado pela música e por tantos corpos suados ao
redor. Totalmente perdido, mas decidido a encontrar o amigo, embrenhou-se que
nem desbravador por aquela turba.
Olha daqui, olha dali, eis que, de repente, Santino se depara
com uma cena inusitada. Lá estava o arrojado Jofre, caneca de cerveja em uma
das mãos, cigarro na outra, dançando colado a duas belas damas. O novinho,
apesar de inexperiente, achou melhor não se intrometer, pois imaginou que o
colega estivesse fazendo uso de alguma sofisticada técnica de
investigação.
- Nota de esclarecimento: O conto "Caso delicado" foi publicado por Notibras no dia 18/5/2024.
- https://www.notibras.com/site/jofre-policial-das-antigas-da-o-bote-na-hora-certa/
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