No mesmo ambiente de trabalho de sempre, e depois de jogar sua
tarrafa machista para todos os cantos, dizem que só a Ritinha caiu na conversa
sem-futuro do sujeito. Tanto é que, grávida, obrigou o gajo a casar ou, então,
o pai, tipo bruto lá pelos lados de Campina Grande, logo apareceria com uma
peixeira na mão.
A mulher, após alguns anos de casório, constatou que o marido
era um traste. Não valia nem sequer a deitada maldormida. Que Onofre fosse
arrumar outra para lavar suas cuecas! Sem maiores expectativas, o homem foi
obrigado a alugar um quarto-e-sala bem distante da linda praia de Tambaú, na
aprazível João Pessoa.
Onofre, já sem aquela aparência atrativa que nunca teve, sentiu
a idade chegar. E, para piorar a situação, o dinheiro se tornou ainda mais
curto por conta da pensão para o filho. Quase não sobrava grana para buscar aconchego
nos braços de alguma mulher disposta a ceder espaço para o amor em troca de
paga, por menor que fosse.
Como o tempo não para, o homem, finalmente, se viu livre do
emprego. Aposentou-se aos 65 anos e, sem muitas expectativas para novos casos
de amor, viu-se só. Mas nem por isso deixou de tentar. Tanto é que, pelo menos
uma vez por semana, Onofre se sentava à mesa de algum quiosque na praia, talvez
esperando que alguma garota de 20 ou 30 se sentasse no seu colo. Pura ilusão.
Mas a história que se seguiu foi outra por
esses dias. Pois é, lá estava o Onofre velho de guerra, sentado à mesa de um
bar com um belo rapazola de 20 anos. Os dois conversavam sorridentes, quando
passou o Daniel, antigo colega de trabalho, acompanhado da esposa. O homem
cumprimentou o Onofre, que fez questão de se levantar e ir até o amigo.
Aparentando certo nervosismo, Onofre puxou
Daniel para um canto. A esposa do amigo não entendeu aquela situação, ainda
mais porque ficou plantada em plena calçada, mas preferiu não criar pendenga.
Daniel, também sem compreender aquilo, olhou admirado para o antigo colega,
que, finalmente revelou o motivo de tê-lo puxado para longe de ouvidos
curiosos.
— Olha aqui, Daniel, aquele rapaz é meu filho. Não é nenhum
garotão que estou saindo. Ouviu? Quero deixar isso bem claro!
- Nota de esclarecimento: O conto "Onofre, o machão neurótico" foi publicado por Notibras no dia 5/5/2024.
- https://www.notibras.com/site/onofre-o-machao-neurotico-conta-o-que-nao-precisa/
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