Mais velha, Maria
Amélia dava conselhos à amiga há tempos, principalmente quanto à vida amorosa
que deveria levar com o marido. Seja como for, talvez foram exatamente esses
conselhos da antiga secretária e amante de Adolpho que tenham contribuído de
forma incisiva no modo como ele passou a encarar a esposa. O homem, justamente
por causa dos conselhos dados pela amante à esposa, apaixonou-se por Elizabeth,
que havia se casado por imposição ou conveniência da família.
O triângulo amoroso
continuou até Maria Amélia perceber que não havia mais espaço para si na vida
de Adolpho. Então, decidiu abandonar o barco antes que fosse jogada ao mar. Mas
saiu feliz, principalmente porque também tinha uma admiração pela jovem esposa
do ex-amante. Sempre mantiveram contato, apesar do distanciamento de Maria
Amélia, que jamais buscou momentos que pudessem, de alguma forma, perturbar o
fluxo normal do casamento de Adolpho e Elizabeth.
Somente após a morte
do marido de Elizabeth, é que as duas ficaram mais próximas. Não se sabe se
alguma vez tenha chegado aos ouvidos da viúva a história dos adúlteros, mas é
provável que não. Ou, então, sua gratidão era tamanha pelos conselhos recebidos
de Maria Amélia, sem contar a amizade que parecia ser verdadeira e de
sentimentos nobres, que jamais pensou, sequer, em comentar tal assunto.
— Canastra
real! E... Bati! – Elizabeth, como uma criança que acabou de ganhar um doce,
bate palmas freneticamente.
— Assim não dá, vocês sempre ganham!
– Silva, que está fazendo dupla com Geralda, mulher tão ou mais velha que Maria
Amélia, vizinha do quarto andar e casada com um coronel reformado do Exército,
finge ficar contrariado. Na verdade, ele gosta mesmo de ficar na presença da
amada, além, é claro, de ouvir as histórias das outras duas mulheres, que
sempre têm alguma coisa interessante para contar, como da vez que Geralda viu
um casal de jovens namorando na escada. “Era um pega aqui, beija ali... Vocês
precisavam ver a cara da garota quando me viu! Parecia que iria ter um treco
qualquer!”, a velha se divertia e divertia todos os presentes.
E entre
uma canastra e outra, os velhos tratavam logo de pegar o morto. Ninguém queria
perder no buraco, mas se perdiam, tudo bem. Ainda havia as fofocas da Geralda.
A velha, além do dom da palavra, dependendo do ânimo da plateia, sabia como
ninguém mudar o final da história
- Nota de esclarecimento: O conto "Buraco e outras histórias" foi publicado por Notibras no dia 3/5/2024.
- https://www.notibras.com/site/caso-de-triangulo-amoroso-viuvez-novos-pares-e-cartas-escondidas/
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