Como disse um sábio, o ódio é irmão gêmeo do amor. Pois é, um
novo sentimento começou a entrar no coração do Edmar. E era assim que o homem
conseguia suportar passar tanto tempo na capital, pois aprendeu a dosar aquelas
duas emoções no seu peito: o ódio e a ganância. Aliás, por conta desta, o
carioca fez fortuna em pouco mais de cinco anos.
Rico e com Brasília a seus pés, Edmar poderia morar nas partes
nobres da cidade. Rejeitou até mesmo o Lago Sul, para você ver. É verdade que a
muvuca de Taguatinga o atraía, mas acabou comprando um amplo apartamento na
decadente Asa Norte. A localidade, apesar de alquebrada, mantinha Edmar ligado
à realidade, que, além de despida, quase nunca lhe chegava bem-passada.
O homem sentia falta não apenas das praias, como também das
esquinas tão cariocas. Gostava de tomar uma geladinha, saboreada de pé
encostado no balcão. Que as mesas e cadeiras continuassem por ali para quem
quisesse se sentar. Mas cadê aquele toque de descompromisso? Cadê aquela troca
de ofensas em tom de brincadeira com o atendente? Cadê aquela bandeja de ovos
coloridos? Sem falar daquela coxinha que, de tantas moscas, poderia facilmente
ser confundida com um quibe?
E foi por esses dias que aconteceu um interlúdio entre o ricaço
e um legítimo nativo do Distrito Federal. Nascido, cuspido e escarrado por
aqui. E não me venham tentar corrigir com aquela conversinha de esculpido em
carrara, já que a conversa foi, além de franca, extremamente
esclarecedora.
— Brasília é muito formal!
— Como assim, Edmar?
— As pessoas daqui se preocupam mais com aparências do que com
a própria vida.
— Como assim?
— Meu amigo, Brasília carece de um Zeca Pagodinho.
- Nota de esclarecimento: O conto "Um carioca em Brasília" foi publicado por Notibras no dia 1/5/2024.
- https://www.notibras.com/site/brasilia-cidade-formal-precisa-de-um-zeca-pagodinho/
Nenhum comentário:
Postar um comentário