Assim que chegamos ao local, o crime estava em curso. A mulher,
roupa rasgada, corria em volta de um velho Fusca azul estacionado em frente à
residência do casal. O marido, enfurecido, tentava alcançá-la para continuar as
agressões.
Descemos da viatura e, então, a senhora correu em minha
direção. O esposo a seguiu, mas coloquei a vítima atrás de mim e mandei o homem
parar. Ele não obedeceu, momento em que o Márcio e o Luciano, os policiais que
estavam comigo, numa rápida intervenção, conseguiram deter o sujeito. Diante do
flagrante de violência doméstica, rumamos para a delegacia.
Passamos o caso para o delegado Miranda, que deu voz de prisão
ao agressor da esposa. O homem, inconformado, começou a gritar que a bandida
era a mulher. O delegado, do alto da calma quase de monge, explicou ao preso
que quem havia cometido o crime era ele.
— Doutor, mas o traído fui eu. O senhor acha certo me prender e
deixar essa safada solta?
— Senhor, adultério não é crime, mas agressão é. Aliás, além de
lesão corporal, o senhor já vai responder por injúria.
Após lavrar o auto de flagrante, o criminoso foi colocado na
cela. Quanto à esposa, ela telefonou para o namorado ir buscá-la na delegacia.
E, até onde sei, os dois estão muito bem.
O resto do dia na delegacia foi tranquilo e retornei para o
lar, doce lar. Tomei um banho quente, peguei uma latinha de cerveja na
geladeira e fui assistir a um romântico filme no aconchego da minha cama. Ah, e
para você que não entendeu as palavras do delegado Miranda, faço questão de
repeti-las: adultério não é crime, mas agressão é. Por isso, fique mansinho ou,
então, irei atrás de você.
- Nota de esclarecimento: O conto "Agatha Poirot" e o marido traído foi publicado por Notibras no dia 7/5/2024.
- https://www.notibras.com/site/prisao-de-marido-traido-evita-mais-um-feminicidio/
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