—
Marcos, estou velho. Perigosamente velho!
Tal
afirmação, hoje em dia, me parece muito mais honesta, já que papai, todo
ressabiado, está beirando os 70. Um sobrevivente em uma família que
praticamente desconhece a longevidade.
Naquela
época, meu coroa devia ter uns 35 ou 36 anos, o que, hoje em dia, seria
considerado quase um molecote. Atualmente, a tal crise dos 40 foi empurrada
para ou 50 ou, não duvido, para os 60.
As pessoas cuidam melhor da saúde, muita
gente deixou o cigarro de lado, as academias estão lotadas. Coisas da classe
média, que passaram a ser quase obrigatórias no orçamento. No entanto, tem hora
que dá uma preguiça disso tudo, como se a vontade de mandar tudo pro alto e se
empanturrar de fast-food fossem irresistíveis. E, pelo menos no meu caso,
parece ser.
Para
piorar, meu vizinho, que tem praticamente a minha idade, começou a jogar bola
com o filho na quadra daqui do condomínio. E eu, vendo meu menino com olhos
arregalados voltados aquela cena, não resisti e comprei uma bola para
brincarmos também.
Gente,
o que eu, um adulto, quero provar? Que sou um garotão cheio de disposição? Uma
espécie de Clark Kent que passa o dia trabalhando num jornal e, no final do
dia, quer salvar o mundo, mesmo que esse mundo seja o próprio ego de mostrar que
você também é atleta que nem o pai do amiguinho da sua cria? Que seja!
E
lá fui eu trocar a camisa social, o jeans e o sapato por camiseta, bermuda e
tênis. O problema é que, após meia hoje de correria e chutes a gol, parece que
meu coração estava com vontade de sair pela boca.
—
Vamos, papai! Chuta!
Bem
que eu poderia ter engolido o orgulho e pedir um tempo. Mas como fazer isso
diante do filho de seis anos, que, pasmem, me considera o novo Garrincha?
Insisti
por mais alguns minutos, que me pareceram a própria eternidade. Exausto,
curvado e com as mãos nos joelhos, arfando mais do que cavalo depois de puxar
carroça o dia inteiro, não tive saída.
— Francisco, estou velho. Perigosamente velho!
—
Mas, papai, você ainda joga bola comigo.
Meu
guri está certo quanto a isso, mas nem desconfia das dores que se espalham sem
qualquer cerimônia por todo meu corpo. Os joelhos, então, estão no maior
frangalho. E pensar que nem cheguei aos 40.
- Nota de esclarecimento: O conto "Velho, perigosamente velho!" foi publicado por Notibras no dia 22/7/2025.
- https://www.notibras.com/site/meu-pai-e-um-sobrevivente-em-uma-familia-que-praticamente-desconhece-a-longevidade/
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