terça-feira, 22 de julho de 2025

Velho, perigosamente velho!

    

             Desde que me conheço por gente, ouço meu pai dizer:

             — Marcos, estou velho. Perigosamente velho!

       Tal afirmação, hoje em dia, me parece muito mais honesta, já que papai, todo ressabiado, está beirando os 70. Um sobrevivente em uma família que praticamente desconhece a longevidade. 

          Naquela época, meu coroa devia ter uns 35 ou 36 anos, o que, hoje em dia, seria considerado quase um molecote. Atualmente, a tal crise dos 40 foi empurrada para ou 50 ou, não duvido, para os 60. 

          As pessoas cuidam melhor da saúde, muita gente deixou o cigarro de lado, as academias estão lotadas. Coisas da classe média, que passaram a ser quase obrigatórias no orçamento. No entanto, tem hora que dá uma preguiça disso tudo, como se a vontade de mandar tudo pro alto e se empanturrar de fast-food fossem irresistíveis. E, pelo menos no meu caso, parece ser.

          Para piorar, meu vizinho, que tem praticamente a minha idade, começou a jogar bola com o filho na quadra daqui do condomínio. E eu, vendo meu menino com olhos arregalados voltados aquela cena, não resisti e comprei uma bola para brincarmos também. 

          Gente, o que eu, um adulto, quero provar? Que sou um garotão cheio de disposição? Uma espécie de Clark Kent que passa o dia trabalhando num jornal e, no final do dia, quer salvar o mundo, mesmo que esse mundo seja o próprio ego de mostrar que você também é atleta que nem o pai do amiguinho da sua cria? Que seja!

          E lá fui eu trocar a camisa social, o jeans e o sapato por camiseta, bermuda e tênis. O problema é que, após meia hoje de correria e chutes a gol, parece que meu coração estava com vontade de sair pela boca. 

          — Vamos, papai! Chuta!

          Bem que eu poderia ter engolido o orgulho e pedir um tempo. Mas como fazer isso diante do filho de seis anos, que, pasmem, me considera o novo Garrincha? 

          Insisti por mais alguns minutos, que me pareceram a própria eternidade. Exausto, curvado e com as mãos nos joelhos, arfando mais do que cavalo depois de puxar carroça o dia inteiro, não tive saída. 

          — Francisco, estou velho. Perigosamente velho!

          — Mas, papai, você ainda joga bola comigo.

          Meu guri está certo quanto a isso, mas nem desconfia das dores que se espalham sem qualquer cerimônia por todo meu corpo. Os joelhos, então, estão no maior frangalho. E pensar que nem cheguei aos 40.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Velho, perigosamente velho!" foi publicado por Notibras no dia 22/7/2025.
  • https://www.notibras.com/site/meu-pai-e-um-sobrevivente-em-uma-familia-que-praticamente-desconhece-a-longevidade/

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