Não que Marinete desejasse qualquer mal à
parenta. No entanto, cansada de viver tantos martírios, uma sementinha do mal
começou a germinar na mente da azarada. E se, por acaso, Marineide tropeçasse
sem querer e batesse a cabeça na quina da mesa da sala? Que a morte fosse
instantânea, já que não seria Marinete a querer que a amada irmã
sofresse.
Ciente de que Marineide costumava sair do quarto descalça,
pois adorava sentir o geladinho da cerâmica, Marinete fez questão de passar
pano úmido no chão. Mas não pense você que a consciência bateu, mesmo porque
era o seu dia de fazer faxina na casa.
— Ai, que chão gostoso!
Era a primogênita, braços erguidos e sorriso contagiante.
Marinete, rodo na mão, observou a irmã, como se estivesse aguardando por um
desfecho fatal. Que nada! A sortuda passou radiante, foi até a cozinha, pegou
um copo de leite e retornou que nem bailarina para o quarto.
Marinete ficou furiosa com a cena e, talvez por isso, tenha
perdido o equilíbrio e caiu de bumbum no chão. Ui! Doeu! Entretanto, o que
ficou mesmo ferido foi o orgulho.
A partir daquele momento, a caçula resolveu
decretar guerra. Todavia, não se deu ao trabalho de avisar a irmã sobre sua
decisão. Por que dar armas à inimiga? O ataque seria na encolha.
E a mulher tentou, tentou, tentou... Ih,
tentou de tudo! Até colocar veneno de rato num pedaço de bolo. O problema é
que, na hora de entregá-lo para a irmã, Marinete se confundiu e acabou comendo
o pedaço envenenado. Por sorte, percebeu o equívoco assim que engoliu o
primeiro naco e correu desesperada para o banheiro. Vomitou até os bofes, mas
não morreu.
Marineide não aparentou desconfiança, mas
parece que aquela luzinha de alerta foi acesa. A partir daí, passou a observar
melhor as atitudes da irmã mais nova, e, não tardou, não teve a menor dúvida de
que ela estava tramando algo. E, na primeira oportunidade, deu o troco.
Aconteceu alguns dias após o caso do bolo. A
campainha tocou, e lá foi a Marineide atender. Flores. Aliás, um buquê
caprichado de rosas vermelhas, cuja mensagem geralmente vem carregada de amor,
paixão, sedução e desejo. Que felicidade! Entretanto, o melhor mesmo foi quando
Marineide, buquê nas mãos, passou pela irmã e disparou:
— Tá com inveja, bebê? Morda as suas costas!
- Nota de esclarecimento: O conto "Gêmeas quase idênticas" foi publicado por Notibras no dia 25/7/2025.
- https://www.notibras.com/site/enquanto-uma-nasceu-para-sorrir-outra-para-chorar/
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