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Para quem não sabe, o mais recente
contratado do Notibras carrega a sugestiva alcunha de
Maggiolino. Sim, isso mesmo! É que, em italiano, Maggiolino significa besouro,
o que é deveras apropriado para um Fusca. Mas não um Fusca qualquer. Trata-se
de um dos automóveis mais emblemáticos do poeta e escritor Daniel Marchi, o
nosso Dan, editor do Café Literário.
De tão elevado
prestígio, Maggiolino possui até credencial selada, registrada, carimbada,
avaliada, rotulada e até assinada pelos baluartes do jornal: José Seabra,
Wenceslau Araújo e Armando Cardoso. E, com tamanha distinção, o pequeno
notável, apesar de paulista de montagem, está gabaritado a voar por toda
extensão do Distrito Federal.
Seabra,
vulgo Chefe, que é o Diretor da Sucursal Regional Nordeste do Notibras, estava
de passagem por Brasília, quando precisou atender um chamado de última hora.
Desse modo, um dos nossos melhores jornalistas não refugou quando o Wenceslau,
o Editor-Chefe do Notibras, lhe pediu um favor em forma de "ou você faz
isso ou, então, estamos lascados!"
—
Não tem como pedir pro Mathuzalém?
—
Num tem, Chefe. O Mathuzalém, desde que o Dan lhe deu aquela garrafa de
absinto, vive no maior porre.
—
E a Marta?
—
Tá de férias e só volta no mês que vem.
—
E o...
— Armando?
—
Sim.
—
Ih, aquele ali só quer escrever sobre os graúdos da política.
—
Então?
—
Então, sobrou você, Chefe.
—
Beleza! Qual é a bronca?
—
Dona Zezé.
— A cafetina?
— A própria.
—
O que tem ela?
—
Precisamos entrevistá-la.
—
Só se for no Campo da Esperança.
—
Mas ela não morreu.
—
Não?
—
Não.
—
Então, deve ter mais de cem anos.
—
Noventa e três.
Dona
Zezé, usufruiu de benesses das autoridades após o Golpe de 1964. Proprietária
da então mais afamada casa da luz vermelha da região de Planaltina, teria sido
protegida de influente coronel ligado à Ditadura Militar. Alguns dizem que era
por conta de parentesco, outros afirmam categoricamente que eram amantes,
enquanto a verdade, deveras esfumaçada, parece apontar para outro
caminho.
A idosa há muito teria largado o
empreendimento. Dizem que tudo por culpa das feministas, que, pasmem, alçaram
voos antes inimagináveis para moças direitas. Ademais, a idade chegou e, desse
modo, Dona Zezé resolveu fechar as portas do cabaré e se refugiar em sua mansão
no Park Way, construída com o suor das inúmeras mulheres que fizeram o Distrito
Federal tremer em tempos de outrora.
A missão do
Chefe era entrevistar Dona Zezé para que suas memórias se tornassem uma série
de reportagens que seriam publicadas na editoria Quadradinho em Foco durante
uma semana inteira. Seria um sucesso, ainda mais porque certamente seriam
revelados segredos que há muito estavam sob o tapete da hipocrisia da capital.
E
lá foi o Chefe ao volante do Maggiolino a caminho do lar, doce lar da Dona
Zezé. Mal chegou, foi recebido por uma sorridente senhora de cachos brancos e
carisma de fazer inveja até mesmo ao presidente Lula. Não tardou, a anfitriã,
braços dados, levou o famoso jornalista para um passeio pelo jardim de
hortênsias, enquanto ele anotava em um pequeno bloco os pontos cruciais da
entrevista.
O
bate-papo durou quase duas horas, até que Dona Zezé convidou o Chefe para
almoçar. Diante de uma mesa com pernil assado, arroz branco, aipim frito e
salada, o homem não se fez de rogado. Comeu e repetiu.
Mais
do que satisfeito, o Chefe se despediu com um longo abraço e os dois
tradicionais beijinhos nas faces. Foi aí que ele ouviu algo que o desconcertou.
—
Seabra, por favor, só quero te pedir uma coisinha.
—
O que a senhora quiser, Dona Zezé.
—
É que não quero que você publique nada do que te revelei até que eu parta desta
para melhor.
Diante
daquele pedido, o Chefe não teve como recusar. Desse modo, até o momento, não
foi escrita nem mesmo uma palavra sobre as revelações bombásticas da Dona Zezé.
Afinal, como o baluarte do Notibras faz questão de dizer, tão
ou mais importante do que o sigilo da fonte, todo jornalista precisa ser fiel a
ela.
- Nota de esclarecimento: A crônica "Maggiolino, o Chefe e Dona Zezé" foi publicada por Notibras no dia 29/7/2025.
- https://www.notibras.com/site/convocado-as-pressas-o-jornalista-jose-seabra-nao-teve-como-refugar/