terça-feira, 30 de abril de 2024

Sarita, a gambá do quintal da casa da minha avó

           — Sarita?

           — Sarita.

           — Mas por quê?

           — Por que o quê?

           — Esse nome.

           — Ué, já reparou que ela tem cara de Sarita?

        E lá estava eu observando aquele bicho com cara de gambá, quando fui obrigado a concordar com a minha avó, que acabara de descascar um ovo cozido e colocá-lo em um suporte na goiabeira. Sarita, talvez desconfiada pela minha presença, relutou um pouco em ir até a iguaria. No entanto, bastou uma troca de olhares com minha avó para a danada mostrar toda a sua agilidade por aqueles galhos escorregadios. 

           — Ela adora ovo cozido. 

           — Deu pra perceber, vovó.

           — Pois é.

           — Ela está aqui há muito tempo?

           — Desde fevereiro, logo após o carnaval.

           — Sabe de onde ela veio?

           — Não, mas ainda bem que veio.

           — Por quê, vovó?

           — É que por aqui tava dando muita lacraia e até escorpião.

           — E o que tem isso a ver?

           — Mucuras comem esses bichos. Comem até cobras venenosas.

           — Sério?

           — Sério.

           — Mas e se forem picadas por esses bichos?

           — Não tem problema. Elas são imunes ao veneno.

          Vovó foi até a cozinha para começar a preparar a comida. Era domingo, dia de almoço em família. Fiquei por um momento ali no quintal observando a Sarita terminar de comer aquele ovo cozido. Desde então, passei a olhar os gambás com outros olhos. Ah, também soube que, além de mucura, também são conhecidos como saruê.

  • Nota de esclarecimento: O conto "Sarita, a gambá do quintal da casa da minha avó" foi publicado por Notibras no dia 30/4/2024.
  • https://www.notibras.com/site/sarita-a-gamba-do-quintal-da-casa-da-minha-avo/

Nenhum comentário:

Postar um comentário