Não devia ter dez anos quando deu a primeira tragada. Escondido da
avó, que havia esquecido o cigarro no cinzeiro. Tragou com tanta força, que
teve uma crise de tosse. A velha, lá da cozinha, pensou que o menino estava
doente por causa da friagem.
—
Coloque as meias, Lúcio!
Já
um pouco maior, o garoto criou coragem e pediu para o pai deixá-lo acender o
cigarro. O homem achou graça e não viu motivo para negar tal desejo. Esse
passou a ser um hábito, tanto é que Lúcio acendia não apenas o cigarro do pai,
mas da mãe, dos tios e até da avó, de quem pegava escondido dois ou três para
fumar escondido.
Aos
15, Lúcio, cigarro entre os dedos, tragava sem cerimônia na frente de todos.
Fumava na rua, na escola, no clube, até no ônibus, quando ainda não era
proibido. Fumaça pela boca, fumaça pelas narinas, fumaça em lindas argolas que
bailavam pelo ar.
Lúcio
começou a trabalhar em uma repartição pública. Que felicidade! A fumaça se
confundia com as pessoas. Cinzeiros espalhados por todo o ambiente, abarrotados
de guimbas.
Foi
no emprego que o rapaz conheceu Maria. Encantadora aos 28 anos e, ainda por
cima, fumava com estilo. Piteira! Isso mesmo! Piteira! A mulher era a única que
usava esse apetrecho para dar longas tragadas antes de soltar fumaças em aros
tão perfeitos, que não teve jeito. Lúcio ficou completamente enlaçado pela
colega.
—
Não, Lúcio. Você é muito novo pra mim.
O
rapaz, apesar de apaixonado, não insistiu. Melhor ficar próximo sofrendo a ser
excluído do círculo de amizade da mulher. E foi o que fez. Tornaram-se até
confidentes e, durante a comemoração de fim de ano, o grupo foi se despedindo,
até sobrarem cinco ou seis. Maria e Lúcio, mais ao canto, sorriam futilidades,
até que ela mexeu na carteira para pegar mais um cigarro.
—
Posso acender pra você?
—
Hum. Sabia que ninguém nunca acendeu um cigarro pra mim?
Não se sabe se foi por conta daquele gesto ou se a bebida contribuiu, Maria começou a olhar o colega com outros olhos. Tanto é que, naquele mesmo dia, os dois foram para um hotel ali perto, onde passaram a noite. Entre uma tragada e outra, aquelas vozes carregadas de alcatrão se amaram.
- Nota de esclarecimento: O conto "Lúcio, o fumante inveterado" foi publicado por Notibras no dia 29/4/2024.
- https://www.notibras.com/site/maria-nega-o-amor-ate-deitar-em-lencois-com-cheiro-de-tabaco/
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