Para
entender o caso, é bom retornar até o último carnaval. Lá estavam a Paula e o
Maurício, que jurou amor eterno para a esposa ali mesmo. Como sei? Sou
testemunha quase ocular, pois estava no dia com uma amiga, que, parece, viu
tudo acontecer numa das 51 mesas do Pietro's Bar, famoso quiosque
aqui em Barra de São Miguel. E, se a minha amiga não
conseguiu me contar todos os detalhes, é óbvio que imaginei alguns e, não nego,
talvez tenha aumentado outros tantos. Mas quem garante que não aconteceu
exatamente assim? Coloco a sua mão no fogo que sim.
Paula, mulher dos seus 45, apesar de negar
que tenha chegado aos 32, é casada há pelo menos 20 com o Maurício. É ou era?
Não importa, pois fofoca boa não se intimida por causa de miudezas.
Combinaram passar aquela última noite de
folia desfrutando uma gelada e degustando as famosas iguarias do referido
estabelecimento comercial na linda Praia das Conchas. Coquetel daqui, coquetel
dali, eis que a Betinha, que outrora poderia ser facilmente confundida como a cocotinha
do pedaço, resolveu desfilar toda aquela alegoria justamente na mesa ao lado.
Pra quê? O olho comprido do Maurício, mais arregalado que jabuticaba madura no
pé, cismou em fazer par com o tal pensamento do Diabo.
Não pense você que a coisa desandou de
modo a causar embaraço para os presentes. É que a Paula, que de boba não tem
nada, deu aquele beliscão de acordar até defunto de três dias no esposo. O
homem, que vagava que nem astronauta pelo espaço, pousou rapidamente o seu
foguete. Nada de se embrenhar pelos anéis de Saturno ou buscar o aconchego em
outra Vênus.
O carnaval passou, mas eis que chegou a
Semana Santa. E, sejamos sinceros, o Maurício parecia redimido daquele pequeno
deslize. Tanto é que até fez questão de preparar o almoço da sexta-feira.
Peixe, conforme reza a tradição. Tanto é que a Paula quis presentear o maridão
com novidades debaixo dos lençóis, que se tornaram ainda mais aquecidos naquele
dia assim que a Lua despontou no lindo céu sobre aquele lar, doce lar.
Mas não é apenas de peixe que vive o
homem. E não é que o Maurício, justamente no domingo de Páscoa, caiu de boca no
chocolate da Betinha? Isso mesmo! Pra você ver como é que as coisas acontecem
por causa dessa ânsia descontrolada por tal iguaria. Diante da inocente maçã, o
chocolate é o verdadeiro fruto proibido.
Foi um pega pra capar, mas, até onde
consta, Maurício se safou com sua masculinidade intacta. Tomou alguns bons
tapas na cara para deixar de ser adepto da infidelidade. Se o homem tomou
tenência, não se sabe ao certo, mas parece que tem andado na linha. É que a
Paula caminha todas as manhãs pela orla, mão firme no braço do gajo, que nem se
atreve a tirar os olhos da areia, pois o beliscão já está preparado, só
esperando a oportunidade.
- Nota de esclarecimento: O conto "Paula, Maurício e o verdadeiro fruto do pecado" foi publicado por Notibras no dia 30/4/2024.
- https://www.notibras.com/site/paula-e-mauricio-descascam-verdadeiro-fruto-do-pecado/
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