Argemiro Cantagalo, certa feita, engraçou-se para o lado de mulher casada. Acabou
de caso sério com a tal esposa de outrem. Tudo parecia dentro dos conformes,
pois o traído não desconfiou a princípio. O problema foi logo após alguns
meses, quando o marido notou, assim que retornou ao lar, que os chinelos
estavam molhados.
—
Alzira, por acaso você usou meus chinelos?
— E eu
lá ia usá-los por quê, Cornélio?
O gajo
ficou com a pulga e mais um monte de insetos atrás das orelhas. Não passaria
daquela semana. Se houvesse algo para ser descoberto, que fosse descoberto,
custasse o que custasse. Cornélio estava disposto a pagar pelo preço, por mais
elevado que fosse.
Foi na
quarta-feira, que dizem ser o dia mais propício para os amantes agirem.
Cornélio, que nunca chegava antes das sete da noite, tratou de fazer uma visita
surpresa à esposa no meio da tarde. Mal passou a chave na porta do apartamento,
parece que Alzira percebeu o barulho. Ela tratou de cutucar o amante, que
dormia completamente nu ao lado.
Argemiro
jogou as roupas e os sapatos pela janela. Pensou em pular. Segundo andar, um
pouco alto. Melhor seria enfrentar a situação. Conversaria de homem para homem
com o marido da amante e, civilizadamente, resolveria a pendenga.
O pelado, covarde como ele só, mudou de ideia, pegou o
guarda-chuva que estava no canto e, antes de pular, o abriu para amortecer a
queda. Não amorteceu, mas, por milagre do santo dos concubinos, safou-se quase
ileso.
Cornélio, assim que abriu a porta, viu a esposa dormindo
languidamente na cama. Desconfiado, vasculhou todo o quarto. Nenhuma pista. Foi
até a janela e viu o guarda-chuva lá embaixo.
— Alzira, por que o meu guarda-chuva está na calçada?
— Meu amor, pra que você quer aquilo? Em Brasília nunca
chove.
- Nota de esclarecimento: O conto "Salvo pelo guarda-chuva" foi publicado por Notibras no dia 16/6/2024.
- https://www.notibras.com/site/cornelio-como-diz-o-nome-e-ludibriado-por-alzira/
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