Não sei se é verdade ou se foi apenas uma
brincadeira da Salete, a senhora que mora aqui ao lado. Que ela é doida, não
resta dúvida. Tanto é que, não raro, alguém lhe diz na lata: "Ih, Salete,
nem vou tentar argumentar. Quem discute com louco também não é bom da cabeça."
A despeito de tamanha insanidade, de tantas besteiras
proferidas, talvez uma ou outra coisa possa ser aproveitada, assim como
acontece com aquela pepita de ouro escondida numa infinidade de areia. Vai quê!
Pois foi o que parece que aconteceu por esses dias, justamente na porta da
creche, onde fui buscar a minha filha. Lá estava a Salete de bate-papo com a
Neide enquanto também esperavam por suas crias.
Ah, antes que me esqueça de um detalhe importantíssimo, é bom
lembrar que aquelas duas mulheres adoram fazer uma fezinha no jogo do bicho. No
entanto, talvez por azar ou falta de entendimento sobre os significados dos
sonhos sonhados por elas ou por outrem, até onde se tem notícia, nunca
acertaram nem no grupo, quanto mais no milhar a seco.
Azaradas que são, as duas tentavam decifrar como ficar rica no
jogo do bicho. Pensa daqui, pensa dali, eis que a Salete, quase gritando com
aquela voz característica de gralha, abriu aquele sorrisão.
— Que jogo do bicho que nada, mulher!
— Como assim, Salete?
— Neide, quem fica rico é o banqueiro, nunca o apostador.
— Tá. E daí?
— Vamos criar o jogo da fruta.
— Jogo da fruta?
— Sim! Abacaxi, ameixa, amora, banana, carambola, jabuticaba.
Vai ter até melancia, que é a minha fruta favorita.
A conversa prometia, mas chegou a hora de pegar a Carol, minha
garotinha. Voltei para casa pensando naquela ideia. Gente, até que a Salete,
depois de tanta areia, conseguiu cuspir uma pepita de ouro.
- Nota de esclarecimento: O conto "Salete, a tresloucada" foi publicado por Notibras no dia 11/6/2024.
- https://www.notibras.com/site/salete-a-tresloucada-acha-maneira-de-ficar-rica/
Nenhum comentário:
Postar um comentário