Aquela gente era cheia de imaginação. Se alguém mais perspicaz parasse um pouco para pensar, logo perceberia que tudo aquilo não passava de devaneio. No mínimo, exagero.
É verdade que atravessaram o Atlântico. Bem, com lobos ferozes
nos calcanhares, o abismo parece ser a melhor solução. E foi o que os antepassados
daquela gente fizeram. Cheios de vontades e coragens, tiveram a petulância de
sobreviver, quase nunca de viver.
Pior mesmo foi o que os ascendentes daquela outra gente
passaram. Nem vontades, nem coragens, apenas resiliências e teimosias. Costas marcadas,
o couro se fez grosso. Que fosse assim ou fosse assim mesmo. Não tinha jeito,
pois o jeito era esse e acabou.
Não nos esqueçamos daqueles antigos, cujos descendentes quase
desapareceram. Que litoral não era lugar para aquela gente. Que saísse enquanto
havia sobrevivente. Terreno em frente à praia é para gente que trabalha, gente
que nem aquela gente, que continua cheia de imaginação.
Até quando, minha gente, aquela gente, que não se cansa de exaltar que são descendentes, vai querer manter apagada a memória de tanta gente, seja gente forçada, seja gente que já estava por aqui?
- Nota de esclarecimento: O conto "Gente repleta de imaginação" foi publicado por Notibras no dia 25/6/2024.
- https://www.notibras.com/site/nossa-gente-repleta-de-imaginacao-vive-do-passado/
Nenhum comentário:
Postar um comentário