Meu amigo sorriu e concordou
com um movimento sutil da cabeça. Enquanto a água esquentava sobre o fogão, meu
amigo ficou entretido com as fotografias sobre a estante da sala. Em duas dela,
lá estávamos nós dois, ainda jovens na praia de Itapuama, em Cabo de Santo
Agostinho, Pernambuco, para onde havíamos viajado com nossos pais. Nessa época,
tínhamos muitos sonhos, a maioria não realizada.
Antônio pegou a xícara e
sorveu o primeiro gole. Disse que estava delicioso, que eu sempre fui o cara da
turma que sabia fazer café. Fingi falsa modéstia, mesmo porque desde sempre
aprendi que não se pode deixar a água ferver, pois o pó queima.
— Vou embora.
— Pra onde, Antônio?
— Ainda não decidi. Mas vou
pro litoral.
— Cabo de Santo Agostinho?
— Pode ser. Lembra que amamos
aquelas férias?
— Sim. Você tem razão.
Depois do café, Antônio se
despediu com um abraço apertado. Disse que eu sempre fora seu melhor amigo. Em
seguida, me deitei no sofá da sala e adormeci. Acordei quando já era quase
noite. Peguei um cigarro e fui fumar na varanda. Ao sair, percebi um pedaço de
papel debaixo da porta. Era um bilhete do Antônio: "Pedro, o caminho para
o mar é sempre o mais bonito."
Nunca mais tive notícias do
meu amigo. De vez em quando, imagino que ele esteja só de bermuda, pele
bronzeada, ainda com seus 18 anos, deitado em frente à praia de Itapuama. Pura
ilusão. Somos velhos.
- Nota de esclarecimento: O conto "Meu amigo Antônio" foi publicado por Notibras no dia 21/6/2024.
- https://www.notibras.com/site/viver-bem-e-trocar-campina-grande-por-itapuama/
Nenhum comentário:
Postar um comentário