Pelo que me chegou, o fato ocorreu em uma casa modesta, que era cercada por tantas outras do mesmo estilo. Nesse lar, moravam a mãe, o pai e as crianças, que formavam uma escadinha. Salete, a maior, estava com quase oito. Silvano, apesar de ser o do meio, gostava de dizer que era o mais velho, mal contava com seis. Já a Nicolina, a caçulinha, havia completado quatro anos nos primeiros dias de janeiro.
A rotina daquela família era o pai sair cedo para trabalhar, as crianças irem para a escola no período da tarde, enquanto a esposa tomava conta de tudo, além de ganhar um dinheiro dando aula de reforço para os filhos das vizinhas. De tanto trabalho, não raro, assim que o marido jantava, a mulher se recolhia para recuperar as energias para o dia seguinte, que prometia ser duro como todos os demais.
Naquela noite, que nem estava tão adiantada assim, a mulher já sonhava com o paraíso, talvez para esquecer o que a esperava no outro dia. O pai, que havia jantado, estava tomando banho para também ir se deitar, enquanto as crianças brincavam na sala. Nisso, alguém bateu à porta. Salete, na sua autoridade de primogênita, foi ver quem era.
A menina trocou algumas palavras com o homem por detrás da porta. Em seguida, correu até o banheiro para avisar o pai, que ainda estava debaixo do chuveiro.
— Pai, tem um homem lá na porta querendo saber se o senhor morde.
— O quê? Que história é essa, menina?
O pai, enrolado na toalha, tratou logo de ver que história era aquela. Foi até a porta, a abriu e, após trocar algumas palavras com o tal homem, retornou gargalhando.
— Pai, o homem mordeu o senhor?
— Que mordeu o quê, Salete! Ele queria saber onde era a casa do senhor Hermógenes.
- Nota de esclarecimento: O conto "O homem que morde" foi publicado por Notibras no dia 13/6/2024.
- https://www.notibras.com/site/salete-inocente-nao-entende-nome-de-hermogenes/
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