Francineide e
Francinaldo, casados há pouco mais de cinco anos, faziam questão de manter viva
a chama da paixão. Era beijinho daqui, afago dali, até mesmo uma mão-boba
acolá. Coisas de gente repleta de furor.
Aqueles dois nem pensavam em ter filhos. Mas eis que, numa
linda manhã de meados de dezembro, Francineide acordou decidida a ser mãe.
Sorriu aquele sorriso impossível de resistir, enquanto o marido ainda
despertava para mais um dia de trabalho. Não deu outra. Francinaldo chegou
tarde ao serviço naquele dia, mas nada que uma desculpa esfarrapada não pudesse
ser usada. Bastava uma boa dose de óleo de peroba para passar naquela cara de
pau.
Para surpresa da mulher, as regras não vieram logo no mês
seguinte até que, já nos primeiros dias de setembro, chegou ao mundo a menina
mais linda, que, obviamente, teria que receber um nome à altura: Francenilde.
Parece que a garotinha adorou, pois não parava de sorrir aquele sorriso repleto
de gengiva e nenhum dente sequer.
Os primeiros dias foram todos dedicados à Francenilde, que,
afinal, exigia atenção mais que redobrada dos pais. Hora de mamar, hora de
dormir, hora de trocar a fralda. De novo? Sim, pois a pequenina não sabia nem
engatinhar, quanto mais usar o penico.
Cólica, banho, choro bem cedinho. Ah, choro na hora do almoço.
Solta o garfo e vá ver o que está acontecendo com a Francenilde. Ih, esse choro
é de cólica. Não, não, acho que é de fome. Sabe de nada, Francinaldo. Isso é
porque a fralda está cheia. Vá trocá-la, pois estou exausta.
Apesar da correria, Francineide e
Francinaldo estavam cada vez mais apaixonados pela filha. Mas como é que não
fica apaixonado por criatura mais fofa? Impossível!
Os meses fizeram com que Francenilde
crescesse e ficasse cada dia mais participativa. Ela não queria agora só dormir
e comer. Ah, não mesmo! Queria atenção de todos, que precisavam brincar com a
guria. No entanto, aquele fogo entre Francineide e Francinaldo havia voltado. O
problema era arrumarem tempo para se amarem.
Pois o que aconteceu foi justamente numa manhã de março,
quando, por um desses milagres mais raros do que gaúcho que não gosta de
chimarrão, eis que aquele bebê dormia o sono mais profundo. Foi o gatilho para
que Francineide lançasse aquele olhar de desejo sobre Francinaldo, que logo
entendeu.
Trataram de se atracarem como dois
famintos diante de um banquete. Era mão daqui, aperto dali, beijo acolá e
tantas coisas mais acontecendo debaixo daqueles lençóis. Quanto desejo
represado! Até que a mulher, com aquele instinto de mãe, resolveu dar uma
espiadinha na filha, que estava no berço ao lado. Para espanto de Francineide,
a menina, assim que avistou o rosto da mãe, sorriu aquele cativante sorriso
banguela.
— Oi, filhinha! Acordou? Mamãe já estava com saudade!
- Nota de esclarecimento: O conto "Francineide, Francinaldo e o sorriso banguela de Francenilde" foi publicado por Notibras no dia 8/6/2024.
- https://www.notibras.com/site/francineide-francinaldo-e-o-sorriso-banguela-da-filha/
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