quinta-feira, 6 de junho de 2024

Entrevista para Cecília Baumann

   

Bate-papo com o escritor Eduardo Martínez

Cecília Baumann

    Da minha varanda voltada para a vasta paisagem da metrópole, aqui no Paraíso, em São Paulo, aguardo, deitada preguiçosamente na rede, a hora da entrevista por vídeochamada que marquei com Eduardo Martínez, autor do recém lançado livro cuja leitura, de cara, já me encantou: 57 CONTOS E CRÔNICAS POR UM AUTOR MUITO VELHO.

    Na chamada, deparo-me com o charmoso coroa de cabelos grisalhos, de aparência muito mais jovem e jovial do que o título do livro sugere. Ele vai conversando comigo de seu apartamento, em Porto Alegre, entre uma e outra xícara de café, enquanto eu vou acendendo uns cigarros.

    De início, Edu é tímido, mas vamos ficando íntimos, e ele vai se soltando.

    Cecília Baumann: Edu, por que você é escritor?

    Eduardo Martínez: Cecília, creio que é porque sempre adorei ler e mandar cartas. A escrita, então, está presente na minha vida desde muito cedo.

    CB: Para quem você escreve?

    EM: Engraçado que, talvez, as pessoas imaginem que o escritor escreva para um monte de pessoas. Mas penso que isso não é verdade. Escrever é um ato solitário, mas que é dirigido a alguém. Por isso, os leitores se sentem destinatários do escritor. É como se o escritor estivesse lhe mandando uma carta. E quem escreve cartas precisa cativar quem irá recebê-la.

    CB: Como você gostaria que as pessoas pensassem em você e na sua obra?

    EM: Quanto a pensar em mim, não sei. O escritor não é um astro do rock ou do cinema. Podemos sair tranquilamente na esquina para comprar pão sem que as pessoas pulem no nosso pescoço. Nas poucas vezes que alguém me reconheceu e veio conversar foram momentos muito legais, mas que não são capazes de me fazer tirar os pés do chão. Quanto à minha obra, é lógico que gosto de receber elogios. Isso massageia o ego. Todavia, há algumas pessoas que reclamam sobre determinados finais, pois querem que tudo seja lindo e maravilhoso. No entanto, a vida não é assim.

    CB: Estava aqui dando uma lida no seu livro e fiquei imaginando de onde você tira tantas ideias.

   EM: Pois é, Cecília, creio que o escritor precisa ficar atento ao que acontece ao redor. O modo de olhar uma fotografia, ouvir uma frase que possa ser usada em alguma história. São muitas coisas que servem como ponto de partida. Anoto tudo para não esquecer.

    CB: 57 CONTOS E CRÔNICAS POR UM AUTOR MUITO VELHO não é o seu primeiro livro. Vi que você escreveu outros, inclusive DESPIDO DE ILUSÕES.

    EM: É verdade. Também escrevi alguns outros, mas em 2012 parei de escrever. Isso até que a minha esposa, a Dona Irene, me convenceu a voltar a escrever. Aconteceu exatamente no dia 23/12/2021. Então, comecei a escrever compulsivamente contos e crônicas, que acabaram sendo utilizados por professores no Rio de Janeiro e em Brasília.

    CB: Edu, você que é um escritor premiado e publica contos e crônicas diariamente, como é saber que seus textos são lidos por estudantes?

    EM: Cecília, é a parte mais gratificante. Inclusive já visitei algumas turmas em uma escola em Brasília, alunos do professor Leandro Mendes. É algo tão incrível, que preciso me beliscar para ter certeza de que não estou vivendo um sonho.

    CB: Soube que você mora num apartamento que pertenceu ao Caio Fernando Abreu. Como é morar no mesmo local que viveu um dos maiores escritores brasileiros?

    EM: Pois é, Cecília, isso foi uma surpresa para mim. Às vezes, enquanto escrevo, fico olhando ao redor da sala e imagino o Caio me olhando e dizendo: "Ei, cara, melhor trocar essa palavra por outra!"

    CB: Os 57 contos e crônicas deste livro são muito bons. Eu coloco A CARTA E A URNA como um dos maiores contos que já li. Como surgiu essa história?

    EM: Engraçado você falar isso, pois é um dos meus favoritos. A ideia surgiu a partir do desprezo que o homem é capaz de possuir em relação ao outro. A partir daí, enquanto comecei a escrever, a história foi se formando na minha mente. Gostei muito do que escrevi. Tanto é que pedi para a minha mulher ler em voz alta. Assim que terminou, ela arregalou os olhos e disse: "Edu, esse conto está incrível!"

        CB: Já te falaram que você possui a escrita muito fácil e prazerosa de ser lida?

        EM: Sim. A minha esposa até brinca com isso, pois diz que sou o escritor mais facinho que ela conhece.

        CB: Ela está certa (risos). Edu, o que o leitor pode esperar de 57 CONTOS E CRÔNICAS POR UM AUTOR MUITO VELHO?

        EM: Cecília, essa seleção de contos e crônicas passou por um criterioso crivo. A Dona Irene e outras pessoas participaram da escolha, entre as quais o jornalista José Seabra, o escritor e poeta Daniel Marchi e o professor Leandro Mendes. O professor José Geraldo de Sousa Junior, ex-reitor da UnB, e a jurista Soaria Mendes também leram as histórias antes de eu encaminhá-las para a Joanin Editora. Por isso, penso que o leitor irá ter uma conexão muito gostosa com o livro.

       CB: O que eu não perguntei que você gostaria de ter respondido?

        EM: A leitura é fundamental para fazer o ser humano pensar. O livro não é algo pronto e acabado. Isso porque o leitor é parte não passiva da trama. Ele precisa criar imagens para visualizar a história, as personagens, as paisagens. Além disso, o livro não acaba com o fim, pois nos acompanha por dias, meses, anos e, em alguns casos, durante toda a vida. Uma vida sem livros é uma vida vazia, triste e sem sentido.

  • https://www.notibras.com/site/ser-cronista-e-colocar-uma-pitada-de-tempero-na-vida-do-jeito-que-ela-e/


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