Se o Marcio saía noite adentro à procura de
uma companheira para dividir a cama, mesmo que por uma noite apenas, lá ia o
Bonifácio de olho em uma cadelinha ajeitada. No entanto, apesar de tamanhas
tentativas, geralmente os dois companheiros, vencidos, voltavam cabisbaixos
para o lar, doce lar. Mas nada que, já no dia seguinte, não os fizesse desistir
de sonhar com fêmeas das respectivas espécies.
O tempo de solteirice daqueles dois, entretanto, estava próximo
ao fim. Quer dizer, apenas o do Marcio, que, finalmente, encontrou nos braços
da linda Carmélia o amor eterno de Vinicius de Moraes. Quanto ao Bonifácio,
apesar da sua fidelidade canina, não deixou de dar aquelas escapadelas quando a
noite caía mansamente pela cidade.
Sem o companheiro para fazer dupla nas contendas tão comuns na
vida noturna, Bonifácio, de vez em quando, retornava estropiado para casa. Tudo
por conta de desavenças com outros cães por causa dos carinhos de uma ou outra
cachorra no cio. Seja como for, Marcio tratava de cuidar daquelas feridas,
enquanto dava conselhos para o amigo.
Há quase dois anos nessas idas e vindas solitárias, Bonifácio
chegou à residência naquele início de manhã. Abriu o portão com a patinha
ferida e foi se deitar na aconchegante almofada ali na varanda. Não tardou,
Aldo, um amigo de longa data do Marcio, lá da calçada, começou a bater palmas.
Ele foi atender e, em seguida, já estava todo sorriso com o conhecido. Os dois,
então, tiveram o seguinte interlúdio:
— Pô, saio quase todas as noites, mas só
encontro o seu cachorro, nunca te vejo.
— Bah, sou casado. O Bonifácio ainda tá
solteiro.
- Nota de esclarecimento: O conto "Marcio e Bonifácio" foi publicado por Notibras no dia 30/6/2024.
- https://www.notibras.com/site/marcio-e-bonifacio-os-amigos-quase-inseparaveis/
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