Debaixo
dos lençóis, o casal percebeu que até poderia levar a vida separado. No
entanto, os dois quiseram meter a cabeça e o coração naquele relacionamento. É
verdade que, vez ou outra, aconteceram alguns entreveros, mas nada que fizesse a
mulher e o homem desistirem de continuar juntos. E foi o que fizeram até que,
após exatos 50 anos do primeiro olhar, Gildiane, fragilizada e cheia de dores
por conta de um câncer descoberto tardiamente, sucumbiu.
Desolado
pela perda, James ficou sem saber o que fazer com os anos que ainda precisaria
enfrentar sozinho. Depois de tanto tempo ao lado da amada, se sentiu tão
frágil, que até para amarrar o cadarço do sapato precisava da ajuda da filha,
Marisa. Esta, por sinal, apesar das feições parecidas com o pai, possuía o
gênio da falecida.
Marisa acompanhou o martírio da mãe nos poucos meses de
tratamento paliativo. Agora, para que a situação não degringolasse de vez,
estava ciente de que o pai precisava de atenção redobrada. E foi o que fez. No
entanto, mesmo as rochas sofrem com a tempestade e, não tardou, a mulher foi
fazer terapia.
—
Mamãe faleceu há um ano. Desde então, cuido do meu pai.
—
Marisa, a morte é dura.
—
Morrer é fácil, doutora. O problema é o que vem antes e a bagunça que fica
depois.
- Nota de esclarecimento: O conto "Gildiane, James, Marisa e a terapia" foi publicado por Notibras no dia 8/6/2024.
- https://www.notibras.com/site/gildiane-mae-james-pai-e-a-terapia-da-filha-marisa/
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