Abro a cortina do quarto do hotel e olho pela janela. Nada.
Tudo escuro e silencioso, a não ser pelo rangido da própria janela se abrindo.
Tento voltar a dormir, tenho um cliente logo cedo. Meto o celular debaixo do
travesseiro, fecho os olhos. Nada. Perdi o sono.
Minha mulher não me chama pelo nome. Eduardo? Quem poderia ser?
Mas a voz era a dela, pelo menos foi o que imaginei. Pego o celular, nada de
resposta. Mas eis que vejo uma mensagem do meu grande amigo Daniel
Marchi.
Terá sido o Daniel o responsável pelo "Eduardo!"? Não
que ele tenha me gritado, mesmo porque a voz nem era de homem. E conheço bem a
voz do meu amigo, que em nada lembra a da minha amada. Digo que ele pode ser um
possível suspeito porque li ontem mesmo um conto de terror escrito por ele.
Deixe-me pegá-lo novamente. Aqui está: "O mistério da tia-bisavó".
Respondo a mensagem do meu amigo. Aproveito e lhe conto o
ocorrido. Ele me diz que a ideia do conto foi do Francisco, seu filho. A
conversar se prolonga por meia hora ou mais, até que nos despedimos. Na
verdade, o Daniel deve ter adormecido, coisa frequente quando conversamos pelo WhatsApp
à noite. Sei que, lá pela tarde, receberei nova mensagem do meu amigo.
Tento voltar a dormir, mas eis que minha esposa finalmente me
responde: "Não. Tá tudo bem. Amo você." A madrugada continua
silenciosa. Nenhuma voz gritando "Eduardo!" Deve ter sido por conta
do jantar. Quase nunca como à noite e, quando o faço, é algo leve. Creio que
perdi a linha ontem. Nunca mais!
- Nota de esclarecimento: A crônica "Um grito na madrugada" foi publicada por Notibras no dia 3/4/2024.
- https://www.notibras.com/site/quando-dormir-de-barriga-cheia-provoca-pesadelos/
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