— Você é escritor, né?
— Sempre gostei de escrever.
— Percebi. Mas o que você escreve? Livros, matérias para jornal
e revistas?
— Cartas. Desde menino adoro escrever cartas.
A mulher me encarou e torceu os lábios. Em seguida, me mandou
retornar ao meu lugar. Voltei com a sensação de que a havia decepcionado. Como
assim? Cartas? Grande coisa! Que porcaria! Obviamente que ela não me disse tais palavras, mas senti que era justamente isso que aquele olhar deu a entender.
Levei anos para constatar que não passo de um escritor de
cartas. Todavia, não vejo isso com desprezo, mesmo porque, hoje estou certo
disso, o grande Machado de Assis jamais desejou escrever para milhões de
leitores. Ele dirigia sua pena a uma única pessoa, seja um amigo, um conhecido
ou mesmo aquele amor escondido. Não importa, pois o mais imortal dos imortais
precisava cativar o destinatário.
Estou louco? Talvez, mas repare que, quando está lendo algo, parece que aquilo foi escrito justamente para você. Essa é a capacidade que nós, meros escritores de cartas, temos de entreter o leitor. Por isso, meu amigo que gosta de escrever, deixe de lado qualquer hesitação e trate de retirar aquela carta do fundo da gaveta e a envie logo. Um texto engavetado é apenas um monte de palavras num pedaço de papel. Quando lido, ele ganha o mundo.
- Nota de esclarecimento: A crônica "Mero escritor de cartas" foi publicada por Notibras no dia 6/4/2024.
- https://www.notibras.com/site/ola-como-vai-eu-vou-indo-e-voce-tudo-bem/
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