O Leandro, para quem não sabe, reside no mesmo andar do edifício em que temos um apartamento, isso em Brasília. Somos vizinhos de porta, por assim dizer. Só que, quase sempre, o imóvel fica alugado e, quando vamos à capital do país, geralmente ficamos na casa dos meus sogros. Mas eis que coincidiu de estarmos por lá e o próximo inquilino só entraria no mês seguinte.
Marcamos o dia e, no horário previsto, lá estavam o Leandro e a Elma diante da porta. Mal entraram no nosso lar, doce lar, eis que o meu amigo me solta essa: "Apesar do trânsito, creio que conseguimos chegar a tempo." Todos rimos da piada. Até falei que iria usá-la em algum texto. Pois é, parece que acabei de cumprir tal promessa.
Enquanto eu preparava o lanche, a Elma e o Leandro foram brincar um pouco com a Malulinha, que estava no colo da minha esposa. Mas eis que o meu amigo se aproximou e puxou conversa.
_ Você não deixa a água ferver?
_ É que se a água ferve, o café fica com aquele gosto de queimado.
_ Eu misturo o pó com a água e deixo ferver.
_ Minha sogra faz que nem você. Mas eu só jogo a água quente, quando começa a aparecer pequenas bolhas no fundo da chaleira, sobre o pó em um coador de pano. Eu prefiro o coador de pano, mas tem gente que prefere o de papel ou até o de inox.
Assim que o café ficou pronto, fiz questão de servi uma xícara ao Leandro, que, ao provar, arregalou os olhos e sorriu aquele sorriso de quero mais. "Elma, você precisa provar esse café!" Obviamente que devo ter estufado o peito e feito uma cara de especialista em café gourmet, mas, na verdade, não passo de simples apreciador da bebida mais popular do Brasil.
Já devidamente acomodados à mesa, o principal assunto foi literatura. O Leandro, apaixonado pelo assunto, disse que fica impressionado com a quantidade de talentos que encontra em sala de aula. E não apenas na escrita, mas em vários campos: música, artes plásticas e cênicas, matemática. Eu, que também sou um aficionado pelo tema, estava adorando a conversa, até que a minha mulher, torcedora fanática do Palmeiras e curiosa como ela só, teve o seguinte interlúdio com o meu amigo.
_ Leandro, sabe uma coisa que me chamou a atenção quando o Edu e eu moramos aqui?
_ O quê?
_ É que, logo aqui ao lado, tinha um louco que gritava toda vez que o Palmeiras marcava um gol.
_ Era eu!
A partir desse ponto, ninguém mais falou em outro assunto a não ser sobre futebol. E lá estavam a Dona Irene e o Leandro relembrando as glórias do Palmeiras, enquanto a Elma tentava convencê-los de que o maior era o Flamengo. Peguei a Malulinha no colo, mas ela só olhava aqueles três, como se quisesse dizer que eram uns loucos.
A visita foi maravilhosa e sempre é assunto aqui em Porto Alegre, onde residimos. Quando voltarmos para Brasília, espero que aconteça outro encontro com esse casal muito divertido. Valeu demais!!!
- Nota de esclarecimento: A crônica "Um café com o professor Leandro Mendes" foi publicada por Notibras no dia 5/4/2024.
- https://www.notibras.com/site/cafe-com-professor-leandro-e-pontual-sem-transito-engarrafado/
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