quinta-feira, 4 de abril de 2024

Ditado popular é carne de pescoço

    

   Sempre tive certa dificuldade para entender algumas expressões populares. De amigo da onça até cão que ladra não morde. Quem teve tal ideia, aliás, deveria ter uma conversinha com o Totó, vira-lata só pele e osso da dona Carlota, minha vizinha. O danado, além de latir pra até alma penada, já beliscou o calcanhar dos passantes mais descuidados.

          Saco vazio não para em pé? Daqui a pouco vão querer criar até sapato ortopédico pra sacola. Veja que disparate. Em terra de cego, quem tem um olho é rei?  Só se tiverem falando daquele Virgulino, que também era Ferreira da Silva, cujas andanças por estas terras se deu até perder a cabeça. Aquele, sim, que era rei do cangaço.

          Não estou aqui pra ensinar o padre a rezar a missa, mesmo porque não ficaria bem dentro de uma batina. E mesmo que você seja bom entendedor, creio que vai precisar de mais do que meia palavra. Não acredita? Pois vou provar!

          Imagine um homem se dirigindo até uma lanchonete. O atendente, prestativo como ele só, pergunta o que o provável cliente deseja. O homem coloca a mão na barriga e pronuncia apenas meia palavra.

          — Co. 

          O atendente, imaginando que o homem desejasse um coco, não percebe que sua intuição havia falhado, até que o cliente borrasse as calças antes que pudesse chegar ao banheiro bem ao fundo da lanchonete. 

          E o que falar daquele ditado filho de peixe, peixinho é? Por acaso alguém imagina que um elefante poderia ser filho de peixe? Que bobice mais sem tamanho!

          E quem é o maluco que coloca a mão no fogo por alguém? Com que intuito, a não ser para se queimar? Seria o sujeito masoquista? Sem falar em quem afirma que, quando um burro fala, o outro abaixa a orelha. Gente, burro não fala!!!  

          É verdade que, depois que alguém me explica o que real significado dessas metáforas, até que finjo concordar. Quer dizer, nem sempre é assim, pois há uma que não me entra na cabeça nem que a vaca tussa. Vaca por acaso tosse? Ou não? Sei lá, não sou sujeito de ficar olhando para esses seres que despejam leite em caixinhas. Ou você vai querer me dizer que não são elas que fazem isso?

          A expressão que não aceito? Carne de pescoço! É que a parte mais deliciosa do frango é justamente o pescoço. Por isso, não dei bola para mamãe quando me disse para não namorar a Eulália, pois ela era carne de pescoço. O tiro saiu pela culatra, pois fiquei ainda mais interessado na mulher.

          Não só namorei, mas noivei e casei em pouco mais de ano. Descobri que Eulália está longe de ser carne de pescoço. Que o Diabo a carregue!

  • Nota de esclarecimento: O conto "Ditado popular é carne de pescoço" foi publicado por Notibras no dia 4/4/2024. 
  • https://www.notibras.com/site/eulalia-ganha-sua-cadeira-nos-quintos-do-inferno/

Nenhum comentário:

Postar um comentário