Aninha, quase 20 centímetros
mais baixa, metade do peso do marido, além da jornada tripla, cuidava do Bob, o
cachorrinho que os filhos, Larissa e Bernardo, tanto imploraram para que o avô
comprasse. O velho ao pedido, mas com a promessa de que os netos tomassem conta
do filhote. Promessas vazias, que acabaram cumpridas pela mãe das crianças, que
ganhou a simpatia do animal. Bob, agora, era todo chamego pro seu lado.
Mal chegava do emprego, a
mulher retirava os potes de comida do congelador. E lá estava o Bob, todo
serelepe, em busca de cafuné. Aninha, com um sorriso nos lábios, fazia as
vontades do filho mais novo, que abanava ainda mais o rabo. Quanta felicidade
naquela bolinha de pelos!
Mesa pronta, a família se reunia em volta. Apenas o som
dos talheres, até que, finalmente, a última garfada e o derradeiro gole do suco
de laranja, que há pouco fora espremido pelas mãos firmes da mulher. Nem
precisou mandar as crianças recolherem tudo. Lavaram sem esboçar discórdia.
Aninha, que se preparava para tomar aquele banho para
ir se deitar, percebeu que a lixeira estava abarrotada. De tão cheia, a tampa
tombava para o lado.
— Arnaldo, você se esqueceu de
jogar o lixo fora.
— Aninha, minha flor, não vê
que tô com a cabeça explodindo de dor? Hoje tive um dia cheio no trabalho.
— E daí? E desde quando você
usa a cabeça para fazer alguma coisa? Além do mais, basta usar as mãos pra
colocar o lixo fora.
— Mas, meu amor, sou uma pessoa
completa e não apenas mãos.
Nenhuma palavra da esposa.
Bastou um olhar. Arnaldo tratou de engolir as lamúrias e foi jogar o lixo fora.
O homem bem sabia quem é que mandava naquele lar, doce lar.
- Nota de esclarecimento: O conto "Lar, doce lar" foi publicado por Notibras no dia 10/4/2024.
- https://www.notibras.com/site/olhar-de-aninha-faz-arnaldo-soltar-um-sim-senhora-silencioso/
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