E foi nesse
estado de penúria que tal homem recebeu a visita da assistente social Irenilde.
A mulher quase não percebeu que havia gente naquele chiqueiro, até que ouviu um
gemido vindo lá do fundo. Ela parou, tampou o nariz por conta do fedor, apertou
os olhos e, finalmente, conseguiu enxergar a figura de um ser humano.
—
Almerindo? O senhor é Almerindo das Chagas?
Nenhuma
resposta. Irenilde virou-se para o carcereiro ao lado e pediu para que abrisse
a cela. O homem lhe lançou um olhar de reprovação. No entanto, a assistente
social manteve-se firme na sua decisão.
Já próxima
àquele ser deitado no chão imundo e frio da masmorra, Irenilde não acreditava
que aquilo fosse possível. Por que aquele homem estava ali naquelas condições
sub-humanas?
— O nome do
senhor é Almerindo das Chagas?
Pela
primeira vez, o velho olhou para Irenilde. Os dois se encararam por um momento,
até que ele virou novamente o rosto e voltou a cobri-lo com as mãos rotas.
— Senhor,
preciso saber se o seu nome é Almerindo das Chagas.
—
Almerindo?
— Sim. O
senhor é Almerindo das Chagas?
— Almerindo
já morreu.
— E quem é
o senhor?
— Sou o
governo dos Estados Unidos.
Irenilde suspirou aliviada. Estava diante do homem
por quem tanto procurava há meses. Louco, é verdade. Todavia, insanidade pior
foi a que Almerindo das Chagas havia sido submetido. Sentenciado à morte pelo
crime de lesão corporal. Tudo por conta de uma lasquinha de pedra que jogou em
um ciclista, que ralou o cotovelo no asfalto. Ralou de leve. Mas ralou!
- Nota de esclarecimento: O conto "Almerindo e o governo dos Estados Unidos" foi publicado por Notibras no dia 16/4/2024.
- https://www.notibras.com/site/almerindo-viveu-esquecido-na-masmorra-por-uma-pedrada/
Nenhum comentário:
Postar um comentário