— Se a gente não entrar na água, periga de você perder seu
emprego.
— Por favor, senhores, não entrem no mar.
— Ué, quer mesmo perder o emprego, meu amigo?
— O meu trabalho é evitar que os usuários da praia não percam
as pernas nem os braços.
— Ah, então tá! Quando avistarmos algum tubarão se aproximando,
vamos gritar socorro bem alto.
O salva-vidas ainda tentou convencer aqueles dois, que estavam
cada vez mais irredutíveis. Não pareciam embriagados, apesar do hálito etílico,
que, certamente, lhes proporcionava ainda mais coragem para enfrentar aquelas
fileiras infinitas de dentes pontiagudos.
Como em todos os lugares quando acontece uma
contenda, juntou-se aquele mundaréu de curiosos. Alguns ficaram obviamente ao
lado do salva-vidas, enquanto outros, talvez sanguinários, soltavam palavras de
incentivo para que os dois incautos fossem se refrescar no lar, doce lar dos
tubarões.
Enquanto aquela pendenga se prolongava, eis
que passou uma idosa de lá seus 90 anos. Ela, de mãos dadas com uma garotinha
de não mais que 10, já estava acostumada com aquela cena, pois era moradora do
bairro há tempos.
— Vovó, por que aquele povo tá brigando?
— Na certa, tem algum maluco querendo
mergulhar na praia.
— Ué, mas e os tubarões?
— Vamos, vamos! Discutir com gente assim
não vale a saliva de um papagaio.
- Nota de esclarecimento: O conto "Dois incautos na praia de Boa Viagem" foi publicado por Notibras no dia 1/4/2024.
- https://www.notibras.com/site/salva-vidas-alerta-mas-tem-quem-prefira-perder-braco/
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