De
tão abespinhada que fiquei, quero cuspir a farofa que está engasgada aqui na
goela. Cuspo e quero ver se aquela pulha tem coragem de desdizer o que vou
dizer. E se digo, é verdade! Ou coisa perto dos acontecidos, já que não vou
ficar buscando defeito na história que me contaram. Se quiser acreditar,
acredite ou, do contrário, vá procurar o que fazer e não me venha atazanar as
ideias. A chaleira está fervendo, e não vou perder tempo com descrente.
O
causo é o seguinte. Ah, digo mais! Quem me contou foi a própria Laura, mais uma
das inúmeras vítimas da Mirtes. E já adianto que a Laura não é mais afeita a
mentiras do que qualquer um de nós. Que tenha alguns exageros, isso é do jogo.
Ou você vai querer dar uma de moralista e falar mal daquele gol de mão a favor
do seu time? Ah, me poupe!
Um
perfume. Tudo foi por causa de um maldito perfume que a Laura comprou no camelô.
Perfume importado, por assim dizer. Que fosse falsificado, não importa, já que
a história não vai ficar menos onerosa para a bandida da Mirtes. A fedentina
é certa.
A
Laura, que estava sossegada em casa após mais um dia de labuta, ouviu a
campainha tocar insistentemente. Mesmo cansada, foi ver quem era. E quem era? A
salafrária Mirtes, que veio pedir um vestido emprestado.
— Veja lá o que você vai aprontar com esse
meu vestido, hein, mulher!
— Pode ficar tranquila, amiga! Te devolvo
lavado, passado e engomado.
Convencida pela lábia da Mirtes, a Laura,
inocente como ela só, ainda caiu na conversa de deixar que a outra levasse o
frasco do tal perfume mais caro que petisco em bar de bacana.
Quase duas semanas depois, nada da Mirtes
devolver o vestido nem o perfume. A maldita sumiu do mapa, como se estivesse se
escondendo das obrigações. Todavia, como não dá para tatu ficar entocado
durante muito tempo, eis que algo inesperado aconteceu.
A Mirtes não apareceu, mas o Orlando, o
namorado da Laura, que também andava sumido, deu as caras. O gajo, que teria
dito que iria fazer uma viagem de última hora, tudo a mando do patrão,
finalmente retornou para os braços da amada. Entretanto, a Laura, cuja tolice
foi logo deixada de lado, percebeu algo que a fez ligar os pontos.
— Orlando, seu descarado! Nem me venha com
desculpas, pois conheço muito bem esse perfume.
- Nota de esclarecimento: O conto "Laura e o perfume revelador" foi publicado por Notibras no dia 31/7/2024.
- https://www.notibras.com/site/laura-descobre-traicao-ao-sentir-perfume-revelador/
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