sexta-feira, 5 de julho de 2024

Zezé, o rio-branquense

    

            Não sei se você já passou por Visconde do Rio Branco, agradável município de Minas Gerais. Seja como for, é lá que ainda mora o Zezé, que, hoje, já ultrapassou a barreira dos 70. No entanto, continua o mesmo de sempre ou, então, quase. 

          Com os filhos já marmanjos há tempos, a mulher entretida com quermesses intermináveis, o Zezé encontrou a paz entre galinhas, cabras, porcos e duas ou três vacas. Isso sem contar aquele mundaréu de milho que o velho cismou em plantar e, assim que a colheita acontecer, já está pronto para fazer as mais famosas pamonhas da região. Para se ter ideia, ele tem freguês até na capital. 

          Mas não pense você que o Zezé é facilmente contatado. Ah, não mesmo! Todavia, não por falta de educação, pois isso nunca lhe faltou. Aliás, tem de sobra. Por isso, se quiser falar com ele, que vá até o seu sítio. A porteira da propriedade desse rio-branquense está sempre aberta.

          Esse estilo de vida bucólico do Zezé, no entretanto, tem causado certo desconforto no seu filho mais novo, o Gladstone, que, na verdade, nem é tão novo assim. Mora em Brasília e já passou dos 50, mas, como todo filho que se presa, não parou de torrar a paciência dos genitores. 

          — Pai, por que o senhor não compra um celular?

          — Não quero.

          — Se é por causa de dinheiro, me fala, que compro um pro senhor.

          — Não quero.

          — E se alguém precisar falar com o senhor?

          — Que venha aqui e fale.

          — Mas, pai, ter um celular é importante. Vá que o senhor precise de algo urgente.

          — Nessa altura da vida, não tem nada mais urgente do que o sossego. 

  • Nota de esclarecimento: O conto "Zezé, o rio-branquense" foi publicado por Notibras no dia 5/7/2024.
  • https://www.notibras.com/site/celular-muda-rotina-e-acaba-com-nosso-sossego/

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