Com os filhos já marmanjos há tempos, a mulher entretida com
quermesses intermináveis, o Zezé encontrou a paz entre galinhas, cabras, porcos
e duas ou três vacas. Isso sem contar aquele mundaréu de milho que o velho cismou
em plantar e, assim que a colheita acontecer, já está pronto para fazer as mais
famosas pamonhas da região. Para se ter ideia, ele tem freguês até na
capital.
Mas não pense você que o Zezé é facilmente contatado. Ah, não
mesmo! Todavia, não por falta de educação, pois isso nunca lhe faltou. Aliás, tem
de sobra. Por isso, se quiser falar com ele, que vá até o seu sítio. A porteira
da propriedade desse rio-branquense está sempre aberta.
Esse estilo de vida bucólico do Zezé, no entretanto, tem
causado certo desconforto no seu filho mais novo, o Gladstone, que, na verdade,
nem é tão novo assim. Mora em Brasília e já passou dos 50, mas, como todo filho
que se presa, não parou de torrar a paciência dos genitores.
— Pai, por que o senhor não compra um
celular?
— Não quero.
— Se é por causa de dinheiro, me fala, que
compro um pro senhor.
— Não quero.
— E se alguém precisar falar com o senhor?
— Que venha aqui e fale.
— Mas, pai, ter um celular é importante.
Vá que o senhor precise de algo urgente.
— Nessa altura da vida, não tem nada mais
urgente do que o sossego.
- Nota de esclarecimento: O conto "Zezé, o rio-branquense" foi publicado por Notibras no dia 5/7/2024.
- https://www.notibras.com/site/celular-muda-rotina-e-acaba-com-nosso-sossego/
Nenhum comentário:
Postar um comentário