No dia seguinte, enquanto mamãe preparava o
café da manhã, eu lhe contava meus planos de seguir os passos do Costa. Ela me
olhava de lado, cuspia um palavrão e procurava me desencorajar.
— Deixa de bobice, Alfredo! E lá criei filho
pra cair no mundo. Pois você vai tratar de estudar e trabalhar num emprego
normal que nem seu pai.
É verdade que estudei, mas não me tornei
escriturário como meu pai, que praticamente só teve um emprego em toda a vida,
num cartório perto de casa. De tanto carimbo que bateu, acabou desenvolvendo
uma tendinite que o acompanhou até o último suspiro. Ironia ou não, mamãe ainda
hoje utiliza um dos carimbos do papai como peso de papel na estante da
sala.
Engenheiro que me tornei, viajo por toda a
região. Quando posso, prefiro ir de carro. Creio que, de certo modo, consegui
realizar meu sonho de infância. A estrada me fascina e me permite ter conversas
com o meu eu interior. Além do mais, consigo ver lugares impossíveis de serem
vistos lá de cima, quando vou de avião.
De vez em quando, coloco uma música, mas o
silêncio me permite apreciar melhor a paisagem. Gosto de ver os cavalos soltos
no pasto. Vejo mais vacas e bois. Será que eles sabem que, mais cedo ou mais
tarde, acabarão num prato?
- Nota de esclarecimento: O conto "Sonho quase realizado" foi publicado por Notibras no dia 19/7/2024.
- https://www.notibras.com/site/do-alto-de-baixo-vendo-o-mundo-no-futuro-do-prato/
Nenhum comentário:
Postar um comentário