— Tira a mão desse cachorro, Pedro Henrique!
— Tadinho dele, mamãe.
— Que tadinho o quê! Aposto que tem até sarna!
O menino, olhos tristonhos que nem o do cãozinho, ainda tentou
um último argumento, mas sem sucesso. A mulher parecia irredutível, até que,
não se sabe o que a fez mudar de ideia.
— Pegue logo esse pulguento, antes que eu
me arrependa.
E lá foi a criança pegar no colo aquele
monte de pelos. Mal entrou no carro, Pedro Henrique percebeu que estava diante
de uma tarefa muito importante. Qual nome daria para o seu novo companheiro?
Tupã? Simba? Que tal Aladin? Não, esse era o nome do cachorro da dona Lúcia, a
vizinha. Entretido que estava, tomou um susto quando sua mãe gritou.
— Ai!
— O que foi, mamãe?
— Acho que entrou um cisco no meu olho.
— Cisco?
— É, cisco, um troço, um treco, uma coisa.
Pedro
Henrique gostou tanto daquela palavra, mesmo não entendendo direito seu
significado, que batizou, ali mesmo, o seu amigo. Pois é, ficou Cisco. Aliás,
Cisco Henrique Almeida de Pádua.
Nasceu uma amizade tão grande entre aqueles dois, que a mãe
percebeu que havia tomado a decisão acertada. Ela achava graça do filho
tentando ensinar o cachorro o que havia aprendido na escola. De tão atento que
o bicho ficava, a mulher chegava a imaginar que ele estava entendendo.
Cisco, até onde se tem notícias, não aprendeu
a fazer contas nem conjugar verbos. No entanto, ao longo dos anos que se
seguiram, se tornou parte daquela família. Tanto é que, agora perto de
completar 10 anos, gosta de se deitar na confortável almofada na sala, enquanto
aguarda pelo seu irmão humano voltar da faculdade para aprontarem algumas travessuras.
- Nota de esclarecimento: O conto "Foi por um cisco" foi publicado por Notibras no dia 1º/8/2024.
- https://www.notibras.com/site/pedro-henrique-adota-orfao-que-vira-amizade-eterna/
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