Graça, manicure de mão-cheia, queria
expandir os negócios. Abrir um salão de beleza era o sonho da mulher, que até
ganhava bem por conta de tanta pintura caprichada nas unhas das inúmeras
clientes, muitas até que se deslocavam do outro lado da cidade para serem
atendidas pela afamada profissional. Aliás, manicure e pedicure, pois Graça se
destacava entre as melhores.
A garota precisava encontrar um sócio, de preferência que fosse
bom com a tesoura para remodelar a cabeça das clientes, enquanto ela dava
aquele trato em mãos e pés. Não sobraria cutícula sobre cutícula, tamanha a
ligeireza de Graça. Encheriam os alforjes de notas graúdas e, certamente,
teriam que abrir filiais por toda a cidade, quiçá pelo estado inteirinho.
Acordou
decidida naquela manhã a encontrar alguém que topasse a empreitada. Obviamente
que precisava achar uma pessoa com economias. Nem precisava muito, mas o
suficiente para bancar o aluguel por alguns meses.
Por conta de um desses fortuitos, Graça foi convidada para um
churrasco no bairro vizinho. E, durante um samba e outro, a mulher parou um
pouco para descansar. Sentou-se ao lado do Olavo, que logo puxou conversa.
— Mas, mulher, você tem samba nos pés!
— Obrigada!
— Qual é a sua graça?
— E não é que você adivinhou?
—
Como assim?
—
Meu nome é Graça.
O casal de última hora caiu na gargalhada, o que poderia ter
chamado a atenção de todos na festa. No entanto, apenas Rômulo, que há tempos
estava de olho na manicure, percebeu que não seria daquela vez que chegaria na
mulher para tentar a sorte. Bobeou, dançou! Fica pra próxima!
Graça e Olavo, que perceberam algumas coisas em comum,
engataram um namorico, que logo se transformou em romance. Ele, cabeleireiro
talentoso, havia sido demitido do último emprego por um descuido. É que ele
atendeu duas clientes morenas, ambas com cabelos encaracolados. A primeira
queria ficar loira, enquanto a outra desejou apenas alisar as madeixas. E lá
foi o cabeleireiro preparar os produtos,
— Graça, estava tudo certo. O serviço ficaria pronto em menos
de duas horas, já contando o tempo da fofoca. Mas eis que aconteceu uma coisa.
— O que houve, meu amor?
— Fiquei tão entretido com a conversa, que acabei alisando a
que queria ficar loira, enquanto taquei tinta amarela na outra. Foi o maior
bafafá!
— Nossa! Só espero que isso não aconteça quando tivermos o
nosso salão.
— Ah, pode ficar tranquila.
— Que bom!
— Isso é raríssimo. Se bem que acontece sempre.
- Nota de esclarecimento: O conto "A manicure e o cabeleireiro" foi publicado por Notibras no dia 1/7/2024.
- https://www.notibras.com/site/roda-de-samba-une-casal-para-construir-seu-futuro/
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