Por falar em barriga, ultimamente prefiro as estações mais
frias. Não que eu seja fã de temperaturas abaixo de zero grau. Algo em torno
dos 15 já está de bom tamanho, pois é a desculpa para tirar meu casado de lã do
armário e curtir um certo desleixo com meu corpo. A roupa esconde minhas
gorduras, o que eleva minha autoestima.
E cá estou em uma festa à beira da piscina na linda residência
do Paulo, meu colega dos tempos de faculdade. Rico até não poder mais, meu
amigo deu muita sorte na vida. Ganhou muito dinheiro, mas a maior parte foi por
herança.
Pouco mais velho que eu, Paulo se formou dois
semestres mais tarde, pois bombou em algumas matérias. Não importa, pois acabou
pegando o canudo e começou a trabalhar na empresa de engenharia da família.
Como éramos próximos, não tardou, convenceu o velho a me contratar.
Mas deixemos essas histórias de lado, pois em
nada tem a ver com o que quero contar. É que, agora mesmo, há uma bela mulher,
talvez com seus 20 anos, me encarando. Nunca a vi, mas certamente é de família
de prestígio, pois as vestes e as joias parecem garantir tal condição.
Não me interprete mal, pois não sou desses
caras endinheirados que vivem correndo atrás das novinhas. Prefiro as que
regulam com a minha idade, pois parecem ignorar as artimanhas do tempo sobre os
corpos. Ademais, não sou rico, apesar de levar uma vida confortável. Seja como
for, a garota não tira os olhos de mim, o que está me deixando intrigado.
Finjo que não percebo, mas meu olhar me
entrega. Ela sabe que estou interessado. Ergo meu copo de uísque em sua
direção, ela sorri. Enquanto crio coragem para me aproximar, é ela quem chega
em mim.
— Oi. Sou a Sônia.
A jovem, ainda por cima, tem o nome da minha
fantasia dos meus tempos de adolescente. Só falta ser Braga também. Um minuto
mais, ela diz que é sobrinha do anfitrião.
Conversa vai, conversa vem, parece que nos
conhecemos há tempos. Tanto é que, pouco depois das 22h, ela me chama para
sairmos dali. Nem acredito, apesar da insegurança que bate forte. Há quase seis
meses longe da academia, ganhei quase 10 quilos, a maior parte no abdome. Isso
me reporta aos meus tempos de menino, quando vovó me puxou pelo braço até o
caixão do meu avô.
— Robertinho, coloque a mão no rosto do
vovô.
Cheio de receio, obedeci, até que ela me disse algo que até
hoje me assombra.
— Jamais se esqueça de que, apesar dos casacos
de lã, a vida é gelada.
- Nota de esclarecimento: O conto "Roberto, o casaco de lã e a sobrinha do amigo" foi publicado por Notibras no dia 16/7/2024.
- https://www.notibras.com/site/roberto-com-casaco-de-la-descobre-que-vida-e-gelada/
Nenhum comentário:
Postar um comentário